O que aconteceu depois de “O Regresso de Jedi”?
Texto: NUNO GALOPIM
Quando a segunda Estrela da Morte ficou em fanicos no final de O Regresso de Jedi (1983) houve festa entre os ewoks na pequena lua de Endor, com fogo de artifício, música e sorrisos. Na versão “digitalmente escangalhada” apresentada anos depois o final recebeu outra música (bem pior que a canção ewokiana original), uma troca nas “aparições” de jedis com sabor a revisionismo ali metido a ferros (com um computador, claro) e uma sucessão de planos por vários outros pontos da galáxia – de Naboo a Coruscant – a dar conta de que a farra não se fazia só ali. O poder imperial caíra, aparentemente, com a morte do Imperador… Mas ter-se-iam rendido as centenas (ou milhares) de bases e naves até ali ao serviço da ordem imperial? Como tinha o rebentamento daquela estação de batalha e a morte do Imperador significado, num ápice, o fim de tudo. Dava jeito para acabar o filme de 1983 com happy end e um aparente “e foram muito felizes para sempre”… Mas depois de saboreada a festa ficou a dúvida: e depois?
Durante anos falou-se do que poderia ter acontecido. E uso o pretérito porque sabemos que tudo isto aconteceu “há muito tempo numa galáxia muito distante”… Uma das primeiras tentativas realmente coerentes de imaginar esse pós-Episódio VI surgiu em 1991 quando Timothy Zahn publicou Heir to the Empire, o primeiro volume de uma trilogia de romances que imaginavam como um grande almirante do exército imperial tenta reagrupar forças e lutar pelo estabelecimento de uma nova ordem sobre o seu comando. Com o tempo estes livros acabaram diluídos entre a multidão que, juntamente com jogos vídeo, comics, animações e outras ficções escritas, construíram o chamado Star Wars Expanded Universe, um mundo de aventuras que tomam toda uma mitologia e uma cronologia comuns como ponto de partida mas, depois, alargam as suas visões e narrativas a vários períodos, ora anteriores, ora contemporâneos, ora posteriores ao que vimos nos filmes.
Agora que se anuncia a chegada de um Episódio VII que definirá no cânone o que de facto aconteceu mesmo depois de O Regresso de Jedi, não deixa contudo de haver espaço livre para alguma ficção pensada para o período de 30 anos que separa os acontecimentos relatados entre o filme de 1983 e o que em breve chegará aos ecrãs. E por isso mesmo está em curso um plano de lançamentos que, sob o título comum Journey to Star Wars: The Force Awakens, tem vindo a explorar possibilidades narrativas esses terrenos.
No campo da ficção escrita a “viagem” entre os dois filmes começou com Aftermath, de Chuck Wending, que dividiu opiniões, seguindo-se Lost Stars, de Claudia Gray e, para um público juvenil, Moving Target, a Princess Leia Adventure, de Cecil Castellucci e Jason Fry, Smuggler’s Run: a Han Sono and Chewbacca Adventure, de Greg Ruka e The Weapon of a Jedi: a Luke Skyewalker Adventure, de Jason Fry.
A maior fonte de publicações dedicadas ao universo Star Wars ao longo deste ano tem sido contudo a Marvel, lançando as séries Star Wars, Darth Vader, Princess Leia, Lando, Kanan (transcendendo aqui o espaço de protagonismo dos heróis canónicos) e, mais recentemente, Chewbacca. Focada neste projeto que abre as pontes para The Force Awakens, a série Shattered Empire (de quatro números, todos eles já disponíveis) apresenta um exercício de imaginação do “e depois?” de que falamos, propondo uma curta narrativa que não tem a ambição de olhar factos e estratégias a médio prazo (como na trilogia de Timothy Zahn, por exemplo), focando atenções nos dias que se seguiram à batalha de Endor.
Sem abrir aqui espaço a grandes spoilers, pode dizer-se que Shattered Empire dá conta de que o aparente fim da ordem imperial não acarretou a ausência de um plano de contingência. E que é entre estruturas imperiais ainda ativas que os heróis de O Regresso de Jedi, juntamente com algumas novas personagens, vivem uma sucessão de factos e situações que deixam clara quão frágil é ainda a nova etapa que todos estão ali a viver.
Se o cenário e as premissas são interessantes, o desenvolvimento do argumento e o seu desenlace ficam porém muito aquém do que temos encontrado em algumas das outras séries de comics que a Marvel apresentou este ano neste mesmo universo de ficção. Greg Rucka, que está ligado a um dos romances deste conjunto de lançamentos, cria um texto que não rompe o patamar dos lugares-comuns da saga e, mesmo juntando uma boa ideia no desfecho da narrativa, não consegue fazer de Shattered Empire mais do que um divertimento juvenil em tempero Star Wars. Ao longo dos quatro números a arte foi assinada por Marco Checchetto (que em breve assinará a série Obi Wan & Anakin, a sair em janeiro), Angel Uzueta e Emilio Laizo. Aqui, todos eles, dentro do cânone.
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