‘Comics’, a nova vaga de apostas da TV
Texto: NUNO CARDOSO
A televisão está a atravessar uma nova golden era tanto no aplauso da crítica como na popularidade, num panorama que não atingia este nível desde o arranque da década de 90, com séries que marcaram para sempre os moldes de se fazer televisão e que se tornaram formatos de culto e revolucionários no seu género como Twin Peaks, Ficheiros Secretos ou Seinfeld. A verdade é que a criatividade e a originalidade parecem estar a perder peso no braço de ferro com a onda de remakes, spin-offs, sequelas, prequelas e adaptações de filmes e livros que tem marcado as apostas de quem manda nas principais estações e produtoras norte-americanas.
A juntar-se a esta tendência, mais proeminente no panorama televisivo nos últimos dois ou três anos anos, de arriscar em material que já foi testado anteriormente em público em determinado formato, está a nova vaga de séries inspiradas em banda desenhada, acabadas de se estrear, em vias disso ou em fase de produção. E são às dezenas os projetos que aqui encaixam e que vão marcar a atualidade televisiva nos próximos meses.
Entre as novidades mais frescas estão duas mulheres-fortes do mundo dos comics. Supergirl, que se estreou há três semanas nos EUA, e que ainda não tem data de estreia agendada para Portugal, mostra Melissa Benoist na pele da super-heroína da DC Comics, criada por Otto Binder e Al Platino no mundo dos quadradinhos. Comercialmente falando, a estreia foi promissora: 12 milhões de norte-americanos viram o primeiro episódio na CBS. Por outro lado, Jessica Jones está prestes a chegar a território português, no Netflix, já esta sexta-feira, com os 13 episódios da primeira temporada da série homónima. Krysten Ritter dá vida à personagem da Marvel, que na trama decide lançar a sua empresa de detetives quando resolve terminar a sua vida de super-heroína.
Continuando nesta sinergia Marvel-Netflix, a plataforma de streaming vai estrear no próximo ano a primeira temporada de Defenders, de oito episódios, e ainda existe interesse em adaptar para formato de série Iron Fist.
Do popular mundo de X-Men, estão ainda a ser preparadas, ainda que em fase embrionária, duas séries ligadas a este universo da Marvel, Legion e Hellfire, para o FX e a Fox, respetivamente. Bryan Singer, o realizador dos dois primeiros filmes da saga, está a cargo da produção executiva.
Também do criador de The Walking Dead, indiscutivelmente o maior exemplo de sucesso na transição comics-TV no passado recente, chega no início do próximo ano Outcast, que já tem casa entre nós na Fox mas ainda não tem dia de estreia agendado. Desta vez, Robert Kirkman deixa de lado os zombies e traz para o pequeno ecrã o mundo dos exorcismos.
Ainda acerca da série pós-apocalítica, uma das suas produtoras, Gale Ann Hurd, une forças com Warren Ellis para trazer El Pantera, banda desenhada mexicana da década de 70 com a chancela da DC Comics, ao pequeno ecrã, ainda sem data de estreia agendada. A trama concentra-se no mundo do crime na fronteira México-EUA.
A mesma editora de comics vai ter, nos próximos tempos, várias obras do seu catálogo no universo televisivo. Casos de Preacher (que está a ser adaptado pelo ator Seth Rogen para o AMC) e Legends of Tomorrow (que contém personagens de Arrow e The Flash e outras novas para o CW).
A juntar-se a estes projetos está a recém-anunciada adaptação de Hawaiian Dick, lançada em 2002 por B. Clay Moore e Steven Griffin, para a NBC, sobre um polícia exilado no Havai, e que arranca no pequeno ecrã no próximo ano.
Comics como Lucifer, Empire of the Dead, Red, Titans, Protocol Orphans ou Y: The Last Man são outros dos projetos que estão em fase de pré-produção ou que estão a conquistar o interesse de estações e produtoras para potenciais adaptações.
A juntar-se a estas novidades estão séries que já têm presença no pequeno ecrã e o seu público fidelizado. Casos de The Flash, Arrow, Daredevil, Gotham, iZombie, Dark Matter, Agent Carter ou Agents of S.H.I.E.L.D., entre outras.
Uma avalancha de super-heróis nos próximos tempos no pequeno ecrã. Preguiça dos cabecilhas das estações? Falta de ideias originais fortes por parte de argumentistas? Um mercado televisivo tão competitivo que já não tem tanta margem de manobra para arriscar em histórias não testadas? Ou a simples aposta em algo que é terreno fértil para audiências? Só o tempo o dirá.
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