Madonna em Amesterdão: um ás de copas rebelde
Texto: NUNO CARDOSO, em Amesterdão
Sexo, religião, amor. Os maiores pilares em que assenta a sua carreira de mais de 30 anos são, também, a base da Rebel Heart Tour, a digressão mundial de 81 datas e que se apresentou em Amesterdão este fim de semana, na Ziggo Dome (com capacidade para 17 mil pessoas) com um primeiro espetáculo esgotado e um segundo perto disso.
Na plateia do concerto, focado no seu último 12.º álbum de originais – metade dos temas cantados no domingo pertencem a Rebel Heart –, não faltaram milhares de fãs de Madonna dos 8 aos 80 anos e vindos de vários países (curiosamente, ouviam-se alguns portugueses no local), que reagiram, em regra geral, com maior entusiasmo aos velhos clássicos do que aos temas mais recentes.
Com uma hora de atraso, Madonna abriu o alinhamento com dois temas do novo disco, Iconic e Bitch I’m Madonna, com coreografia afinada e rodeada do seu leque de bailarinos. O público na Ziggo Dome, inicialmente tímido (talvez pelo tempo de espera passado à chuva nas imediações da sala de espetáculos, antes de entrar) foi-se libertando progressivamente ao longo das 23 canções. De “shy bitches” a “great crowd”, Madonna provou, novamente, que sabe domar uma plateia de qualquer dimensão.
Energético e com sentido de humor, o concerto foi oscilando entre momentos eufóricos (as dançantes Deeper and Deeper, Music e Burning Up, e o curto mas efusivo encore com confetti em Holiday), provocadores (a coreografia com as bailarinas vestidas de freiras e a recriação de A Última Ceia em Holy Water) e os intimistas, nos quais mostrou, sem ajudas, a sua voz (a versão de La Vie en Rose, o acústico True Blue ou a junção entre HeartBreakCity e Love Don’t Live Here Anymore). A perseverança e perfecionismo ficaram evidentes em Living for Love, primeiro single de Rebel Heart, durante o qual Madonna recriou a sua muito falada performance nos Brit Awards: mas, desta vez, a capa desapertou-se a tempo e horas.
Na noite de domingo, na qual se perdeu a conta às vezes em que a cantora norte-americana se dirigiu ao público como “motherfuckers”, destaque ainda para dois momentos altos da noite, apenas com a presença do seu corpo de dançarinos: a adrenalina em Illuminati e a coreografia escaldante de S.E.X..
Ainda que planeados e repetidos nos restantes concertos da Rebel Heart Tour, os momentos de interação com o público foram alguns dos mais aplaudidos da noite. Quer fosse em Material Girl, que Madonna cantou com um véu, após receber um anel de noivado de um fã; ou em Unapologetic Bitch, quando um admirador subiu ao palco para dançar consigo e receber uma banana da “rainha da pop”; ou durante a pausa em que aproveitou para discursar contra o preconceito no mundo.
Ou até mesmo quando ameaçou encurtar o alinhamento do concerto de domingo (e fê-lo, não cantando Secret, Don’t Tell Me e Dress You Up, que tinham feito parte do espetáculo da noite anterior), pelo seu atraso, para que todos pudessem “apanhar a m*rda dos seus comboios a tempo” de volta a casa.
A Rebel Heart Tour é uma digressão que já tem a sua máquina bem oleada. Um espetáculo pensado ao pormenor que evidencia a experiência de décadas de estrada no percurso de Madonna e que mostra que não se chega ao trono por tuta-e-meia.
Alinhamento:
Iconic
Bitch I’m Madonna
Burning Up
Holy Water / Vogue
Devil Pray
Messiah
Body Shop
True Blue
Deeper And Deeper
HeartBreakCity / Love Don’t Live Here Anymore
Like a Virgin
S.E.X.
Living For Love
La Isla Bonita
Who’s That Girl
Rebel Heart
Illuminati
Music / Give It To Me
Candy Shop
Material Girl
La Vie En Rose
Unapologetic Bitch
Encore:
Holiday
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