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Os melhores discos de 2015, por Nuno Galopim

Texto: NUNO GALOPIM

Sufjan Stevens ficou à frente de tudo e todos. Mas há outros nomes a reter. Aldina Duarte, David Fonseca, Luis Severo, Moullinex, Balla, C Duncan, Ghost Culture, Steve Martland, Gidon Kremer, Brian Eno…

Este ano houve um disco que se destacou mesmo de todos os outros. O belíssimo álbum de Sufjan Stevens confirmou-o (se é que ainda era preciso fazê-lo) como um dos talentos maiores do nosso tempo. E deixou claro uma sensibilidade rara não apenas na composição mas na forma de abordar os temas. E desta vez, convenhamos, não era fácil. Não é fácil falar, como ele falou, de uma mãe. Depois houve grandes discos por estes lados, da Aldina Duarte, do David Fonseca, do Luís Severo, de Moullinex, de Balla. Ainda as descobertas de C Duncan e Ghost Culture (se não conhecem ainda não é tarde para o fazerem). Uma reedição saborosa de um disco esquecido de Brian Eno. E a redescoberta de Steve Martland, um dos grandes compositores de finais do século XX. Tudo isto mais os concertos, que não são discos, é verdade, mas fazem parte desta mesma vivência de músicas. E houve muito e bom para ouvir em 2015. Vamos então por partes… (sim, gosto de listas)…

Pop/rock

E agora para algo completamente diferente… Foi assim que, depois das visões de grande complexidade formal que Sufjan Stevens vinha a desenvolver depois de Illinois, alcançando de facto novo patamar de expressão em The Age of Adz, que em 2015 regressou aos discos reencontrando uma simplicidade mais próxima da essência folk da sua música e nos deu, em Carrie & Lowell, um depoimento de cortante intimidade com a sua mãe na berlinda. O retrato do melhor de 2015 passa ainda por duas estreias absolutas, nas electrónicas via Ghost Culture e numa pop elegante e plena de classicismo (embora profundamente moderna) de C Duncan. Regista-se o melhor álbum dos Duran Duran desde os oitentas e ainda mais uma brilhante experiência a solo no universo Vampire Weekend, desta vez com Chris Baio.

1 Sufjan Stevens “Carrie & Lowell”
2 Ghost Culture “Ghost Culture”
3 C Duncan “Architect”
4 Duran Duran “Paper Gods”
5 Baio “The Names”
6 Four Tet “Morning / Evening”
7 Bob Dylan “Shadows in the Night”
8 Courtney Barnett “Sometimes I Sit and Think and Sometimes I Just Sit”
9 Robert Forster “Songs To Play”
10 Ezra Furman “Perpetual Motion People”

Portugueses

Fazer um disco como quem pensa a narrativa de um livro. E como se isso não bastasse, abrir dois pontos de vista sobre as mesmas palavras: por um lado seguindo os caminhos do fado, por outro ensaiando uma visão cinematográfica pungente e vibrante que revelou no encontro de Aldina Duarte com Pedro Gonçalves uma das melhores surpresas made in Portugal dos últimos anos. E uma das mais criativas reflexões sobre o que pode nascer para além do fado. O melhor do ano discográfico nacional assinalou o primeiro disco integralmente em língua portuguesa de David Fonseca, a estreia de Luís Severo em nome próprio, a confirmação de um talento pop atento à pista de dança em Moullinex e uma expressão de reencontro com a raiz sonora da sua identidade em Balla. Foi um bom ano, por estes lados.

1 Aldina Duarte “Romances”
2 David Fonseca “Futuro Eu”
3 Luís Severo “Cara d’Anjo”
4 Moullinex “Elsewhere”
5 Balla “Arqueologia”
6 Medeiros / Lucas “Mar Aberto”
7 Mirror People “Voyager”
8 Sérgio Godinho + Jorge Palma “Juntos”
9 Thunder & Co. “Noiceptor”
10 Capicua “Medusa”

Reedições

Estava para ser o seu primeiro disco vocal desde os quatro álbuns magníficos que tinha editado nos anos 70. Mas em vésperas do lançamento do disco, e já com cópias para crítica entretanto distribuídas, Brian Eno optou por deixar My Squelchy Life na gaveta. E em seu lugar criou e editou Nerve Net. Durante anos o álbum vocal “esquecido” andou por aí em forma de bootlegs, e alguns temas chegaram a passar por antologias. Há perto de um ano, por ocasião de uma campanha de reedições levou Brian Eno a incluir o disco como extra de uma nova versão de Nerve Net em CD. E por ocasião do Record Store Day autorizou finalmente o lançamento do disco, que surgiu apenas no formato de LP, em vinil. Valeu a espera. E fez o melhor de um ano de reedições que incluiu uma primeira caixa integral de Bowie, uma antologia completa de Lloyd Cole na fase dos Commotions, um reencontro com um dos melhores discos dos Air e mais um volume da suculenta Bootleg Series de Bob Dylan.

1 Brian Eno “My Squelchy Life”
2 David Bowie “Five Years – 1969-1973”
3 Air “Virgin Suicides”
4 Lloyd Cole “Collected Recordings 1983-1989”
5 Bob Dylan “The Cutting Edge 1965-1966”
6 Velvet Underground “Loaded”
7 Lou Reed “The Sire Years – Complete Albums Box”
8 Paul McCartney “Tug of War”
9 Pixies “Doolittle 25”
10 Amália Rodrigues “Fado Português”

Clássica

Um dos mais interessantes compositores dos finais do século, Steve Martland viveu entre toda uma formação feita em terreno clássico e uma vivência atenta às formas musicais e sonoridades do seu tempo, o que não era de estranhar dado que lhe chegou a ser confiada a condução dos destinos da etiqueta clássica da Factory Records, onde ele mesmo lançou alguns dos seus primeiros discos. Inesperadamente desaparecido há alguns anos, relativamente silenciado port falta de edições em disco e um silêncio nos programas de concerto, conheceu este ano uma antologia que em dois discos recorda algumas das suas composições, pelas quais passam algumas afinidades com o legado dos minimalistas. Um dos pilares do minimalismo, revisitado por Gidon Kremer este ano foi Philip Glass, cuja obra concertante conheceu em New Seasons a sua melhor gravação até ao momento. Do ano “clássico” há que reter a experiência que Max Richter lançou em Sleep, que não só parte de uma boa ideia como revela uma concretização musical interessante que estabelece pontos entre heranças da música orquestral e os domínios ambient que algumas electrónicas exploram desde que, em 1975, Brian Eno abriu novos horizontes com Discreet Music (que este ano fez 40 anos).

1 Steve Martland “Martland”
2 Gidon Kremer “New Seasons”
3 Max Richter “Sleep”
4 Gyia Kanchelli “Chiaroscuro”
5 Paavo Järvi “Cantatas” de Shistakovich, pelo Coro e Orq. Nacional da Estónia
6 “Music For 18 Musicians”, pelo Ensemble Signal
7 John Adams “Absolut Jest”, pela San Francisco Symphony, dir. M.Tilson Thomas
8 Scriabin “The Complete Works”, por vários intérpretes
9 Anouar Brahem “Souvenance”
10 Leonard Sklatkin / Orq. Lyon “Symphony Nº 3” de Fauré

Concertos

Foi o primeiro em muitos anos em que não passei por um único festival de música. Estava com saudades de ir a um concerto e ponto final, sem um antes ou outro depois, com plateia concentrada numa mesma ideia. Aqui estão, não arrumados por qualquer ordem de preferência, alguns dos bons momentos de palco de 2015.

Kraftwerk, no Coliseu dos Recreios
Patti Smith, no Coliseu dos Recreios
Orq. Sinfónica Portuguesa, dir. João Paulo Santos, a interpretar “Alexandre Nevsky”, de Prokofiev, no CCB (Dias da Música)
Anouar Brahem, na Fundação Gulbenkian
Rufus Wainwright, na Fundação Gulbenkian
Pop dell’Arte, no CCB
Orq. e Coro Gulbenlkian, dir. Paul McCreesh, a interpretar “L’Enfance du Christ” de Berlioz, na Fundação Gulbenkian

(e ainda falta ver os The Gift na MEO Arena este sábado)

1 Comment on Os melhores discos de 2015, por Nuno Galopim

  1. Concordo com grande parte das escolhas… Mas há pouco tempo descobri na RUC o Mourah. Depois comprei o disco Kardia e está simplesmente brutal! Qual não foi o meu espanto quando soube que ele é português, residente na Suíça (até ganhou por lá um prémio importante)… Não se entende como aqui não se dá mais destaque…. Claramente no top 10 da música PT. C.P. Coimbra

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