O regresso da força!
Texto: NUNO GALOPIM
Foram meses de espera, teaser após teaser, o trailer mais adiante e depois os mais curtos spots. As imagens iam apresentando personagens novas, recuperando velhas caras, mostrando novos espaços, recordando objetos, sublinhando sobretudo que a lógica do poderio digital em registo mais próximo do videojogo em que tinham vivido os filmes da segunda trilogia era coisa para esquecer. Falar do novo Star Wars: O Despertar da Força implica começarmos por aqui. Porque foram estas as primeiras janelas que se abriram, alimentando as esperanças de que os valentes tropeções das prequelas medíocres que o próprio George Lucas comandou a partir de 1999 não seria coisa a repetir-se por aqui… Agora, visto o filme, há que antes de mais elogiar o trabalho de quem fez os trailers e tesaers… Porque ao contrário de tantos outros que temos visto nos últimos tempos, verdadeiras versões condensadas dos filmes, aqui nada da trama foi de facto sugerido. Despertou-se o apetite sem sequer desvendar um pedacinho da narrativa. Pelo que a “força” uma vez mais está com a história (e não com o arsenal digital). E convenhamos que há muito que um filme chegava a sala sem que a curiosidade fosse estragada por spoilers.
E agora o filme. Sim, e que filme!
Quem achar que pode haver spoilers na eventual comparação com as duas trilogias anteriores não leia mais. Garanto que não desvendo nada da trama. Nem conto onde anda Luke Skywalker, tão ausente de toda a campanha de que acima falava… Mas quem quiser ir sem mais do que essas imagens, então guarde estas linhas que se seguem para quando voltar da sala escura… (até já e bom filme).
E agora continuamos nós.
E podemos começar por confirmar que J.J. Abrams não podia ter feito um filme melhor. Respeitador da mitologia da saga, fiel aos seus códigos visuais (ao estarmos dentro das naves ou dos demais espaços da First Order lembramo-nos imediatamente da arquitetura sombria da Estrela da Morte ou do design de interiores dos Star Destroyers imperiais), e capaz de reencontrar o espírito original de todo este universo. De resto, se tivermos de estabelecer ligações com o passado, elas serão necessariamente apontadas à trilogia original, mostrando mesmo este Despertar da Força uma absoluta vontade em ignorar tudo o que os episódios I a III entretanto mostraram. Não há aqui um único elemento que estabeleça ligação com qualquer que seja desses três filmes. Não só a trama decorre diretamente de notas lançadas ou sugeridas pelas narrativas da trilogia original. Como todos os “docinhos” para geeks e conhecedores da coisa partem de alusões a momentos, imagens ou diálogos dos filmes originalmente estreados entre 1977 e 1983. E há muitos para saborear.
O Despertar da Força é um filme alicerçado em primeiro lugar num argumento que retoma a complexidade e alma dos filmes originais e recupera também o cuidado na escrita dos diálogos que, na segunda trilogia resvalara para o plano do no pasa nada. Há depois uma cautela na definição das personagens. E se as que vêm detrás retomam as suas características, mostrando os corpos a ideia fisicamente concreta de um tempo que passou, aos novos é dada tanta atenção como a que em tempos definiu Luke, Vader, Leia, Han Solo, Chewbacca, C3P0 ou R2D2… Não é spoiler dizer que os novos atores dão magnificamente conta do recado. E que o pequeno BB-8 é um achado!
A solidez de uma trama consequente que, como no filme de 1977 se resolve em parte no arco narrativo apresentado, ao mesmo tempo que lança pistas para o que se segue, a materialidade física dos espaços (não apenas nos exteriores), a solidez na apresentação das novas personagens, o cuidado nos décors e na escolha de cenários para exteriores, uma direção de fotografia que valoriza esse realismo (mas que sabe que tem de conviver com um trabalho de primeira água de efeitos digitais) e um trabalho na banda sonora, uma vez mais com John Williams, que sublinha a ideia de continuidade, e uma construção que não esconde estarmos perante alguém que domina os códigos do cinema de aventuras (viram Super 8?), são argumentos que falam em favor de um grande regresso a este universo. Melhor ainda do que os reboots que o mesmo J.J. Abrams deu a Star Trek!
Assim sendo, e sem contar onde anda Luke Skywalker, o que fizeram Han e Leia todos estes anos, quem é afinal Kylo Ren e de onde vem esta First Order, vale a pena pelo menos partir para a descoberta de O Despertar da Força com a certeza de que, neste tempo e sob todo este legado, este é o melhor filme que J.J. Abrams podia ter feito e que está, inclusivamente, ao nível de A Guerra das Estrelas e O Império Contra Ataca. A força regressou mesmo a casa!
Uma nota amigável: por gralha referem-se a Rylo Ken em vez de Kylo Ren. Partlho aqui a reação a quente do Segundo Take: http://www.segundotake.com/podcast/2015/12/17/bonus-star-wars-o-despertar-da-forca. Análise mais ponderada no episódio da próxima segunda-feira
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Trocado. Thanks. Coisas do excesso de velocidade…
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Na senda das notas amigáveis, na frase «E se as que vêm detrás retomam (…)» penso que será antes, «E se as que vêm de trás retomam (…)» Quanto ao conteúdo, 100% de acordo!
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