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Punk com… batatas fritas e salada?

Texto: NUNO GALOPIM

Imaginem por cá a hamburgueria Rock Rendez Vous ou a lanchonette Johnny Guitar. Parece ridículo, certo? Pois um restaurante CBGB ainda é pior ideia. E é o que, como revela a Spin, vai brevemente acontecer no espaço de restauração do aeroporto de Newark (em New Jersey). Não vai ser difícil darmos com ele, porque é para lá que vão muitos dos nossos vôos para Nova Iorque…

CBGB? Pergunta o mais distraído…

Sim, era um pequeno clube na Bowery, uma rua movimentada em pleno East Village onde, em meados dos anos 70, por ali ganharam visibilidade nomes como os de Patti Smith, Television, Ramones, Richard Hell, Blondie, Talking Heads, The Shirts…

Sim, podemos dizer que o punk nasceu ali. E se notarmos quão marcante foi o movimento para todo um conjunto de consequências culturais (e não apenas musicais) na história dos últimos 40 anos, então é menos difícil reconhecer o papel patrimonial que deveria ter sido dado àquele lugar. Que, ainda por cima, tinha paredes decoradas a grafitti e colagem sobre colagem de velhos flyers que, por si só, eram, mesmo quando a sala estava vazia e o palco silencioso, uma marca de identidade de um tempo e um furacão de acontecimentos.

Um problema com rendas terminou com uma ordem de despejo que obrigou o clube a fechar as portas. Há muito que não era casa de acontecimentos… Mas era como um museu. E não havia melómano ciente do peso da cultura rock’n’roll que, de passagem por Nova Iorque, ali não fosse ver uma ou outra banda. Nem que só para dizer que tinha estado no CBGB. Por lá passei. E ainda conheci o seu dono, Hilly Crystal, que sem sequer pedir uma carteira profissional ou contactos, aceitou falar ali a um jornalista que vinha de Lisboa. Sem pressas, com boas histórias, e fazendo um tour da casa. Era o perfeito cicerone para um monte de memórias que aquelas paredes tinham vivido e escutado.

Além de não me parecer que o nome do velho clube seja a melhor ideia para dar nome a um restaurante (apesar de haver um Hard Rock Café, e por isso esta nem é assim ideia tão sem exemplo, se virmos bem a coisa), a verdade maior é que o CBGB era uma referência na história da cultura (e nem é preciso dizer “popular”) de Nova Iorque. E ter apagado do mapa a sua presença naquele lugar ou deixar esquecer o valor da sua contribuição para a cultura da cidade é coisa triste. Diria mesmo ignorante.

Mas o património só contará para ser defendido quando há castelos ou pinturas ou memórias com fato e gravata? O encerramento do CBGB tinha já sido um insulto à história patrimonial da cultura musical de Nova Iorque. Seria o mesmo que fechar a casa de Smetana em Praga (que é hoje um museu) ou a de Mozart em Salzburgo (também é museu, que curioso…). São músicas e épocas diferentes. Mas a sua relação com as respetivas cidades foi igualmente marcante. O punk, contudo, não deve ser coisa para encaixar na ideia de cultura para quem muita gente que pensa em política… cultural.

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