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1988. Duas faces (literalmente) num só disco

Texto: NUNO GALOPIM

Editado em 1988, o álbum “Big Thing”, reforça no lado A o relacionamento dos Duran Duran com a música de dança e guarda a outra face para uma série de composições mais tranquilas e cenicamente elaboradas.

Finda a Strange Behaviour Tour que devolveu os Duran Duran à estrada após a edição de Notorious e que, em algumas datas nos EUA e Canadá se cruzou com a Spider Glass Tour de David Bowie, para quem fizeram primeiras partes, era tempo de pensar um novo disco. O sucesso mediano dos singles Skin Trade e Meet El Presidente, com resultados mais baixos desde Careless Memories em 1981, deixava claro que o “patamar” no qual habitavam antes do hiato de 1985 estava distante, com as atenções mainstream agora foaacadas noutros protagonistas. O mapa no qual se encontravam surgia contudo que, ao lado da incerteza com que um novo disco seria recebido, ao grupo havia sido dada nova folga para experimentar outras ideias e eventuais novos caminhos. E eis que nasce Big Thing um disco que tentou juntar dois mundos num álbum só.

A relação próxima dos Duran Duran com a música de dança, expressa logo desde o álbum de estreia e já manifestada em várias versões apresentadas em máxis e, entretanto, reforçada em Notorious, levou-os a olhar uma vez mais em volta, assimilando então ecos da revolução house em curso. Será um exagero encarar Big Thing como o álbum house dos Duran Duran, mas em canções como I Don’t Want Your Love (single de avanço do álbum) e Drug (It’s Just a State of Mind) há um flirt com novas formas rítmicas que dirigem em favor de uma construção pop. Já o tema-título ou, mais ainda, All She Wants Is (segundo single), procura um diálogo mais profundo entre essas novas tendências e uma herança pop na qual as guitarras marcam uma presença evidente. Too Late Marlene, em regime mid-tempo, é ali uma janela que antevia o que se aguardava na outra face.

O lado B do disco segue contudo outros caminhos, acentuando o carater cénico mais elaborado sugerindo em Seven And The Ragged Tiger e aprofundado depois pelos Arcadia, apresentando uma sucessão de baladas e canções mid-tempo que estabelecem ali, salvo nos instantes finais elétricos de Lake Shore Drive, um mood que contrasta com o fulgor anguloso e dançável do lado A, sugerindo um díptico como nunca antes (ou depois) ganharia forma num álbum dos Duran Duran. O lado B abre em tom elegíaco – homenageando figuras entretanto desaparecidas como as de Andy Warhol ou Alex Sadkin (que produzira o grupo nas sessões de 1983) – com Do You Believe in Shame? (o terceiro single daqui extraído), incluindo o alinhamento os discretos (mas cenicamente elaborados) Palomino, Land e The Edge of America, mais um par de breves interlúdios experimentais, estes sugerindo elementos de ligação que o grupo voltaria a usar em alguns outros discos.

Gravado em Paris, contando em estúdio com a presença de Daniel Abraham e Jonathan Elias (com quem tinham trabalhado em A View to a Kill), Big Thing não repetiu os patamares de sucesso dos discos anteriores, gerando mesmo assim momentos de grande visibilidade e motivando duas digressões – a Big Life Thing e a Electric Theatre Tour – que fizeram constatar que, mesmo já longe do estatuto de fenómeno pop mainstream global de outrora, uma sólida base de admiradores continuava a acompanhar a banda.

É durante esta etapa que resolvem fazer chegar às rádios um edit dos temas The Edge of America e Lake Shore Drive num promo sob o nome Krush Brothers (com o qual deram ainda concertos-surpresa) tentando assim avaliar a reação à sua música longe de uma associação direta à ideia de que eram os Duran Duran. Felizmente esta vontade em tirar a prova dos nove pelo (quase) anonimato passou-lhes depressa.

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