A revista “The History of Rock” chegou, na sua ordenação cronológica de edições, à década de 70. E começa no ano da separação dos Beatles e da estreia a solo de Syd Barrett.

A 26 de setembro de 1970 Richard Wright explicava a Michael Watts, do Melody Maker, o que seria Atom Heart Mother, o álbum novo que os Pink Floyd iriam lançar daí a poucos dias. Comparando-o com o ainda recente Ummagumma, do qual lembrava que tinha sobretudo explorado o som, explicava que este seria antes “mais simples de ouvir”, que era “mais emotivo”, revelando que o disco mostraria uma música épica para a qual contribuíra uma secção de metais e um coro com os quais tinham trabalhado. O artigo, que sublinhava que a banda tinha sido a primeira não apenas a explorar as potencialidades da luz no quadro de um concerto pop/rock, mas também a levar equipamento de alta fidelidade para o palco e a iniciar a prática do concerto gratuito por aqueles lados (leia-se o Reino Unido). Em tempo de lançamento de um novo álbum explorava-se ainda a forma como a música dos Pink Floyd evoluíra para estabelecer diálogos com a orquestra que não eram de complemento mas de entendimento profundo ao nível da própria composição.

Duas páginas adiante recua-se no tempo a 31 de janeiro do mesmo ano para uma das raras entrevistas concedidas por Syd Barrett em tempo de apresentação do seu primeiro álbum a solo. Dois anos volvidos sobre A Saucerful of Secrets, o segundo álbum dos Pink Floyd e o último no qual participara, o músico cuja alma criativa ditara os caminhos centrais da identidade da banda até então comentava que não tinha achado essencial o lançamento de Octopus como single de apresentação do álbum The Madcap Laughs e que essa fora antes uma decisão da editora. Mas não parecia incomodado com o sucedido. Contava antes que o disco tinha nascido de um processo moroso, mas conduzido com tranquilidade. Como estava bem financeiramente, como ali admite ao mesmo jornalista, as coisas seguiram o seu ritmo natural. Syd admitia então a existência de planos para atuar ao vivo, mas era ainda cedo para falar de decisões ainda não completamente tomadas. Havia ainda, como sugere, ideias “vagas” para formar um grupo para eventualmente o acompanhar,

Aparentemente tranquilo, Syd Barrett comenta ali o estado da indústria do disco e admite que gosta de passar pelo Top of The Pops, onde “se conhece gente interessante” e pare haver sempre quem esteja preparado para gostar do que ele faz. E acrescenta, em tom luminoso, que não há sombras ou depressão no seu caminho. Isto não impediu que houvesse alguns episódios de agitação ou silêncio a meio da entrevista. Nem tudo parecia ser como se contava. Mas aquele era o seu discurso de então.

Estes dois momentos na vida de músicos da “família” Pink Floyd são apenas dois entre os muitos artigos dos arquivos dos semanários britânicos Melody Maker e NME que podemos encontrar no número que assinala a chegada da revista The History of Rock aos anos 70.

Apesar de levar à capa os Black Sabbath, Leonard Cohen, Nico, Led Zeppelin, Soft Machine, Joni Mitchell, Elton John ou Sandy Denny, entre outros, um dos trunfos maiores desta edição dedicada a 1970 reside no conjunto de artigos que recordam o ano de separação dos Beatles. Num artigo de 14 de Março publicado no NME contava-se que John estava fora do país, e Paul só comunicava por carta, pelo que a conversa se faz com George e Ringo. Conversam sobre a expressão “progressivo”, falam de novos discos e novas bandas. Sobre os Beatles dizem que “tudo está bem”, mas que cada um tem coisas para fazer por si. Bem mais contundente, mas de respostas telegráficas, Paul McCartney responde a 18 de abril ao NME numa entrevista que apresenta o seu disco de estreia a solo e confirma que não tem planos para novas colaborações criativas com John Lennon. Fazia-se história naquelas páginas…