A aventura espacial, em novas visões aos quadradinhos
Texto: NUNO GALOPIM
A ficção científica tem no mundo dos comics um dos seus espaços de mais intensa criação de novas histórias e imagens no presente. Entre a vasta produção, a reta final de 2015 assinalou o arranque de duas séries centradas na aventura espacial humana, uma delas levando uma missão tripulada ao inóspito Vénus, a outra procurando assimilar a descoberta de uma forma de propulsão que permite ir mais longe, mais depressa.
Venus, com texto de Rick Loverd, desenhos de Huang Danlan e um trabalho do colorista Marcio Menyz ciente da paleta de amarelos e castanhos que deve dominar a paisagem do segundo planeta, lança neste primeiro de quatro números uma narrativa no ano 2015 quando, com a China a chamar a si a exploração de Marte, a agência espacial americana aponta azimutes ao menos hospitaleiro Vénus. Um acidente à chegada obriga a tripulação a ações de emergência, a base já ali construída de antemão sendo o refúgio ao qual tentam chegar.
Com ingredientes de “sabotagem” e colocando o poder numa mulher, a história arranca com o lançamento dos alicerces para que a trama possa evoluir, guardando bem a surpresa para os episódios seguintes. O registo de diálogos e a concentração das imagens em sequências de ação é talvez excessivamente encostada à lógica do cinema sci-fi com mais acção do que ideias… Mas deixemos o benefício da dúvida em “on” para mais conclusões a tirar adiante…
Produzido pela habitualmente estimulante Image, a série Faster Than Light surge com texto e desenhos de Brian Haberlin e cores de Geirrod VanDyke. Começa com uma epígrafe de William S. Burroughs…
O homem é um artefacto desenhado para a viagem espacial. Não está desenhado para se manter no seu estado biológico atual mais do que um girino está desenhado para se manter um girino.
E lança-nos depois numa trama que, com o espaço da televisão entre os elementos incluídos na narrativa, nos coloca num tempo em que um investigador encontrou uma forma de conquistar a velocidade da luz, levando uma nave que estava destinada a partir para Marte a ser repensada (mais a sua missão tripulada) para avançar mais longe no espaço… A história avança sem pressa, cedendo espaço aos diálogos e a uma progressiva apresentação dos ambientes e espaços… As notas finais deste primeiro número e a imagem que antecipa o segundo juntam o ingrediente “monstro malvado” à trama, ameaçando não apenas a tripulação que ali chegou, mas podendo colocar em risco a própria alma da série rumo a clichés já estafados do género… Mas também aqui, há que tirar conclusões só mais adiante.
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