Tutankamón: entre as memórias e as novas descobertas
Texto: NUNO GALOPIM
Há cerca de cem anos viviam-se momentos de impasse no Vale dos Reis. A grande necrópole, do outro lado do rio, perto de Luxor, esperava, por melhores dias o retomar das escavações em curso quando, em 1914, a guerra obrigara a travar os trabalhos. Sob orientação de Howard Carter, que trabalhava como free lancer há já alguns tempos, e custos assegurados pela fortuna de Lord Carnavon (que residia no mesmo castelo que hoje muitos conhecem da série Downtown Abbey), os trabalhos de procura por pistas de um túmulo que faltava localizar recomeçaram em 1917. E durante anos não revelaram nada. Até que, em 1922, na primeira semana de trabalhos daquela que Lord Carnavon tinha dito que seria a última campanha que financiaria, um rapaz encontrou vestígios de um degrau junto ao túmulo de Ramssés VI… Em poucos dias estava uma escada desenterrada, aguardando-se a chegada de Lord Carnavon para abrir as portas seladas do que ali estaria guardado… E é aí, quando já com uma vela dentro da sala que não via luz nem recebia ar novo há milhares de anos, que Carter comenta pela primeira vez quando lhe perguntam o que vê. “Coisas maravilhosas”, diz… E tinha razão.
Durante perto de dez anos sucedeu-se um trabalho moroso e meticuloso de inventariação, retirada e empacotamento de todas as peças ali encontradas, enviadas logo depois para o Cairo. O túmulo revelava, intacta, a múmia do jovem faraó Tutankamon, figura claramente menor na história do Egito mas transformada em ícone popular maior pelo impacte do achado. Nunca se tinha encontrado um túmulo real neste estado de preservação. Mesmo que, como mais tarde se veio a questionar, aquele possa não ter sido na verdade um túmulo escavado para si e que as misteriosas circunstâncias da sua morte obrigaram a que, afinal, assim acontecesse.
Num momento em que prosseguem, na câmara funerária de Tutankamon, os estudos que poderão conduzir à abertura do que se supõe poder ser uma passagem para uma sala adjacente que pode guardar o tesouro de Nefertiti (que se crê ser a figura para quem o túmulo fora criado), uma edição especial da Life recorda em 98 páginas os tempos de vida de Tutankamón e o processo de descoberta do túmulo, com inúmeras imagens da época, assim como bastantes fotografias recentes das peças retiradas do túmulo. Um capítulo final agrega informação sobre algumas descobertas recentes, nomeadamente os estudos de tomografia computorizada que permitem inferir sobre as causas da morte do faraó e da sua condição física quando vivo, além de mostrar imagens sobre alguns destes trabalhos recentes ou em curso que ali decorrem.
Deixe uma Resposta