Ao serviço da auto-ajuda
Texto: RUI ALVES DE SOUSA
A partir do livro homónimo de Kahlil Gibran, que inspirou gerações de leitores, o realizador de O Rei Leão fez este O Profeta, longa-metragem que mistura várias técnicas de animação. Há a história principal, da responsabilidade de Allers, com animação 2D convencional (e demasiado computadorizada), e a cada momento, em sincronismo com vários elementos da história, encontramos pequenos segmentos da autoria de outros cineastas . Isto porque a animação serve para ilustrar o seu pensamento do dito “profeta”, homem que fascina a multidão, mas que é odiado pelo regime ditatorial que a controla.
Esse indivíduo é uma espécie de lenda da região que tem ensinamentos inspiradores para todos (mas que não passam de banalidades cheias de retoques estilísticos), acabando por atrair a atenção de amigos e inimigos. Cada uma dessas “lições de vida” é assim ilustrada por um realizador diferente, em momentos de interesse variado, alguns com canções de qualidade duvidosa, e todos eles com ideias filosóficas vulgares.
É um filme de auto-ajuda, que quer puxar a lágrima, levando a emoção manipulada ao extremo do inaceitável. Só se suporta quando encontramos alguma coisa humana naqueles bonecos ocos que passeiam pelo filme, entre maniqueísmos e simplismos existenciais. Allers fez das ideias matreiras da obra de Gibran um filme preguiçoso, com momentos de comédia involuntária constantes. As sequências animadas falham maioritariamente, não conseguindo destacar-se nem evidenciar as qualidades dos seus autores (com exceção da primeira, e belíssima, animação filosófica do filme).
Um filme de domingo à tarde, só que foi feito com o auxílio de imagens animadas. De resto é igual: na pieguice, na presunção, na aparência limpinha, e na superficialidade de todos os seus elementos. E entre tantas frases feitas, só faltava mesmo que o dito profeta dissesse: “estar vivo é o contrário de estar morto”…

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