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Os Wham! disseram adeus há 30 anos

Texto: NUNO GALOPIM

A 28 de junho de 1986 os Wham! juntaram 72 mil pessoas no estádio de Wembley, em Londres, para colocar um ponto final a uma carreira de cinco anos que deles tinha feito um dos casos de maior popularidade da década.

Colocar um ponto final em tempo de glória, vetando à história de uma carreira aquele tempo de decadência que tantas vezes se abate sobre os percursos de grupos cuja longevidade se alonga para além da sua capacidade em se reinventar… Foi assim com os Beatles em 1970, deixando uma obra ímpar e sem tiros ao lado. Foi também assim com os Japan em 1983, interrompendo o percurso num momento em que as possibilidades comerciais se abriam a novos horizontes, mas deixando como última obra de estúdio o álbum Tin Drum (1981), um dos feitos maiores da música pop. Em 1986 foi a vez dos Wham! decidirem um mesmo destino para a sua obra conjunta (que, convenhamos, não se compara nem à dos Beatles nem à dos Japan).

As possibilidades estariam esgotadas? Talvez não… E Faith, o álbum de estreia a solo de George Michael, editado em 1987, mostrava ainda uma presença de heranças naturais daquilo que fora a reta final da obra gravada nos Wham!… Porém, quando em 1990 nos apresentou Listen Without Prejudice – Vol 1, a memória da pop luminosa para farda de calções e cabelos ao sol já ia longe. Muito longe. Visto a 30 anos de distância, foi o fim certo na hora certa. Para o grupo. E sobretudo para o seu vocalista (já que Andrew Ridgley, apesar de ter lançado também um disco a solo, não voltou a agitar águas depois da separação do duo). E sim, foi há precisamente 30 anos. A 28 de junho de 1986, perante um estádio de Wembley apinhado, com 72 mil pessoas, o concerto a que chamaram “The Final” (tal como a antologia editada nesse mesmo ano) fechava o pano em clima de festa.

A vida dos Wham! esgotou-se em cinco anos anos… Nasceu de um novo passo em dois colegas de escola que, depois de terem colaborado com uma banda de ska, avançaram a dois sob um encantamento por heranças da soul, do funk e uma curiosidade pelo emergente rap… Em 1982, a estreia com Young Guns (Go For It) mostrava estes ingredientes assimilados numa matriz pop festiva, de digestão fácil e sob uma imagem de apelo hedonista para consumo teenager. Num ápice estavam sob as atenções. E em 1983 o álbum Fantastic! reforçava o que o single sugerira, transportando-os para um plano competitivo entre uma nova geração de bandas pop britânicas que então viviam a descoberta de uma nova relação com um outro veículo que seria determinante também para a exposição da música (e da imagem) dos Wham!: o teledisco.

Depois de um diferendo com a Innervision – a editora que os representara até então – viram-se, chegados a 1984, no catálogo de uma grande multinacional: a CBS. E, com todas as possibilidades pela frente, afinam a sua visão pop segundo heranças pop e R&B dos sessentas, fazendo de Wake Me Up Before You Go Go o cartão de visita para Make it Big, álbum que os elevou a um estatuto de popularidade global. E global é mesmo a palavra já que, em 1985, chegaram a ser a primeira banda pop ocidental a atuar ao vivo na China. Sob o peso de um estatuto de gigantismo maior ainda deram um novo passo com o single I’m Your Man (1985). E quando se pensava que haveria um passo seguinte, em 1986 anunciam um ponto final, que se justifica pela vontade do vocalista e compositor em passar a trabalhar para um público mais adulto e de gosto mais sofisticado. E é verdade que, para o mercado teenager para o qual estavam apontados como Wham!, as perspetivas de futuro não poderiam adivinhar muitos mais episódios além dos que o curto prazo pudesse colocar imediatamente pela sua frente. Scott Walker já tinha feito o mesmo em finais dos anos 60. E dera-se bem com a opção.

George Michael, que já tinha editado a solo em 1984 o single Careless Whisper (curiosamente uma canção coassinada por ele e Andrew Ridgley), edita A Different Corner, um segundo single em nome próprio. Encenam então a despedida com um conjunto de edições: o EP The Edge of Heaven (que em alguns territórios foi dividido em dois singles separados, um com The Edge of Heaven como protagonista, outro destacando a balada Where Did Your Love Go?, versão de um original dos Was Not Was), o álbum antológico The Final e, como alternativa (para o mercado americano) o álbum Music From The Edge of Heaven, juntando as novas canções e outras editadas já a 45 rotações.

Mas o grande momento deste programa de despedida foi mesmo o concerto em Wembley. Um alinhamento de 21 canções, juntando aos temas dos Wham! algumas versões e chamando a palco não apenas a dupla de cantoras Pepsi & Shirley que os acompanhara sobretudo nos primeiros tempos, e convidados como Elton John e Simon Le Bon (dos Duran Duran). O programa de festejos, que integrou ainda a estreia do documentário Foreign Skyes sobre a visita à China no ano anterior, ficou contudo gravado apenas na memória de quem ali esteve. O concerto não foi gravado (ou pelo menos, se registo foi feito, nunca foi editado). E, em festa, o ponto final chegou há 30 anos.

Aqui fica o alinhamento desse último concerto dos Wham!

Everything She Wants
Club Tropicana
Heartbeat
Battlestations
Bad Boys
If You Were There (versão de um tema dos The Isley Brothers)
The Edge of Heaven
Candle in the Wind (versão de um tema de Elton John com o próprio em palco)
Credit Card Baby
Like a Baby
Love Machine (versão de um tema dos The Miracles)
Where Did Your Heart Go? (versão de um tema dos Was Not Was)
Why (versão de um tema de Carly Simon)
Last Christmas
Wham Rap! (Enjoy What You Do)
A Different Corner
Freedom
Careless Whisper
Young Guns (Go for It!)
Wake Me Up Before You Go-Go

Encore:
I’m Your Man
(com Simon Le Bon e Elton John)

1 Comment on Os Wham! disseram adeus há 30 anos

  1. thiago gonzaga // Agosto 6, 2016 às 5:43 am // Responder

    massa seu texto amigo
    parabéns
    eu adoro o wham
    época mágica.

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