Música para um fim de tarde de verão
Texto: NUNO GALOPIM
Podemos não voltar a ouvir falar deles, mas este verão vale a pena contar com os Porches na hora de procurar banda sonora para um tranquilo fim de tarde e início de serão, sobretudo se o mar está pela frente e o corpo e a alma não estão em modo de festa. São mais um entre os vários projetos do nova-iorquino Aaron Maine do que concretamente uma banda com carreira prioritária para quem a integra, mas têm neste seu segundo álbum um conjunto de canções e argumentos que podem transformar este no eixo central da obra do músico daqui em diante.
Com o sugestivo título Pool – ou seja, há uma piscina (e água fresca) logo no título – este segundo álbum apresentado como Porsches é claramente mais cativante do que a discreta banalidade indie em piloto automático que mostrara no anterior Slow Dance in the Cosmos, de 2013. A paleta de cores e o naipe de sabores alargaram-se a outros domínios e não só mostram agora uma mais ostensiva presença de teclados e outras máquinas (inclusivamente as que manipulam as vozes) como integram referências que vão da new wave a domínios R&B e traduzem, num cozinhado que pisca o olho a terrenos dream pop, um sentido de elegância e placidez que serve de perfeito cenário para uma narrativa com sabor a verão.
As canções fogem contudo ao paradigma de celebração de lazer, hedonismo, calor e mar que associamos ao verão. Olham antes para o outro lado dos dias de calor quando, mal a luz começa a abandonar os céus, os ecos da solidão ou de narrativas menos festivas entram em cena. Pool é assim mais um quadro de melancolia encenada em peças de refrescante e discreta música pop. Resta saber se ao terceiro álbum encontramos nos Porsches sinais mais sólidos de uma carreira ou, antes, a memória de um verão cuja banda sonora contribuíram com algumas belas canções.
Porches
“Pool”
Domino/Edel
★★★
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