Canções pop discretas para quem não segue as modas
Texto: NUNO GALOPIM
Nunca foram “media darlings”, nunca encontraram casa no circuito dos festivais e nunca tiveram um tema seu entregue à banda sonora de um filme que lhes abrisse portas para um mais vasto patamar de atenções. Mas, sobretudo na alvorada do milénio, o projeto Blue States, que junta o timoneiro Andy Dragazis aos colaboradores que ia convocando aos seus discos, chegou a dar-nos alguns belos exemplos de discos de travo pop para ouvidos cansados da voracidade do bailarico das modas da saison. Discos como Nothing Changes Under The Sun (2000) e Man Mountain (2002) revelavam uma pop tranquila, herdeira de ensinamentos do trip hop e de formas subtis de construir canções com electrónicas a que hoje muitos poderiam aplicar o rótulo chillwave.
Houve ainda mais dois discos – The Soundings (2004) e First Steps Into… (2007) -, embora sem o mesmo brilho e ainda mais discretos na sua visibilidade. E agora, após um silêncio de nove anos, eis que Andy Dragazis recupera este nome para apresentar uma nova coleção de canções e de pequenas peças instrumentais pelas quais expressa heranças diretas dos caminhos que percorria por alturas dos seus dois primeiros discos. Propõe novamente canções pop que escapam à ditadura da moda e que, com um trabalho cénico dominado por electrónicas (mas em comunhão com outros instrumentos), volta a definir um álbum que, mesmo sem desejos de fazer a revolução ou assinalar, aos berros, a sua presença, nos dá uma boa mão cheia de momentos que cruzam um melodismo pop classicista com um labor pictórico ambiental que mostra um gosto por construções elaboradas, por vezes grandiosas, quase cinematográficas. Não é disco para causar deslumbramento maior pela eventual surpresa que possa causar. Mas ouve-se bem.
Blue States
“Restless Spheres”
Memphis Industries
★★★
Podem ouvir aqui um tema do álbum:
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