Palavras de outros tempos que iluminam o presente
Texto: NUNO GALOPIM
Duas obras recentes de Gavin Bryars (n. 1943) integram o alinhamento de um disco que a ECM Records acaba de editar. O compositor que cativou atenções nos universos da cultura popular sobretudo através de obras como The Sinking of The Titanic (que já conheceu inúmeras interpretações e gravações) ou Jesus Blood Never Failed Me Yet (que conta com a voz de Tom Waits numa das versões gravadas) apresenta-nos agora duas obras corais.
Uma delas, The Fifth Century (obra de 2014 que dá título ao disco) junta o coro The Crossing, do qual nasceu o desafio para a criação desta peça, ao quarteto de saxofones Prism e a palavras de Thomas Traherne que, apesar de ter vivido no século XVII, só foi descoberto no século XX. São palavras de “intensa espiritualidade”, como descreve Bryars no booklet, refletindo uma “celebração da glória da criação”. Ideia que, em linhas ténues, discretas, mas sempre luminosas, a música desenha no entrelaçar das vozes com os tons quentes dos metais, que lhes servem de fundo, em jogos que por vezes sugerem ecos dos tempos em que estes textos nasceram sem, contudo, deixar nunca de frisar que esta é uma experiência que vive no nosso presente.
O díptico Two Love Songs (2010), que encerra o alinhamento, junta algumas das vozes femininas do mesmo grupo em composições para coro e três solistas em duas canções que nascem sobre poemas de Petrarca.


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