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As dez melhores séries de 2016

Estas foram as dez melhores séries de televisão de 2016, segundo o voto coletivo da equipa da Máquina de Escrever. Uma a uma aqui vão surgir ao longo dos próximos dias, em contagem decrescente. E no número 1 está…

Stranger Things

Estas foram as dez séries de TV mais votadas pela equipa da Máquina de Escrever. O método foi simples, pedindo a cada um que integra a equipa, independentemente das águas em que habitualmente navegue, e desafiando também aqueles que, convidados, assinaram pontualmente textos este ano, que escolhesse as suas dez séries favoritas do ano, da soma das votações surgindo esta lista de dez.

1. “Stranger Things”, dos Duffer Brothers
(Netflix)

Num primeiro embate, Stranger Things, a série sensação da Netflix criada pelos Duffer Brothers, pode parecer algo superficial na sua exaltação da nostalgia pela cultura popular (e, acima de tudo, cinematográfica) dos anos 1980. Não faltam referências a John Carpenter, Steven Spielberg, Stephen King, ou a outros nomes e obras menos mediáticas, mas igualmente marcantes para a ideia de cultura pop dessa década. Felizmente essas referências não se tornam basilares para o progredir da história, além de que o possível desconhecimento dessas mesmas referências não amputa a série, que aqui é suportada por um grupo de crianças – Finn Wolfhard, Gaten Matarazzo, Caleb McLaughlin e a incrível Millie Bobby Brown – que se vê no centro de uma trama de horror. Stranger Things vive das interpretações irrepreensíveis destas crianças, que mesmo no seu contacto com um universo paralelo aterrador, se revelam profundamente reais e terrenas nas suas relações, nas suas ansiedades e ambições. – João Moço

2. “House of Cards”, de Beau Willimon
(Netflix)

Um dos mais entusiastas entre os seguidores de House of Cards conhece melhor do que Frank Underwood os recantos da Casa Branca e há já alguns anos tem mesmo como espaço de trabalho a (verdadeira) Sala Oval. Chama-se Barack Obama e fez notícia o facto de ter pedido para ver, mal estivessem prontos, os episódios da segunda temporada, comentando com aquele humor que lhe conhecemos de tantas situações, que seria bom se as coisas fossem assim “tão impiedosamente eficientes”, observando ainda como “este tipo”, ou seja, Underwood, “consegue que as coisas aconteçam”. Com um Congresso com maioria republicana desde 2010, convenhamos que sabe do que fala. A essa segunda época seguiu-se uma terceira menos vibrante. É que, sem uma escalada pela frente, aos Underwood a chegada à Casa Branca não correu da melhor maneira… Contudo, este ano, a vibração regressou. Em ano eleitoral (real), a série refletiu ecos de um tempo de campanha, ao mesmo tempo que colocava em cena um jogo de poder baseado num casal presidencial (ressonâncias com os Clinton?). Cada vez mais distante da trama britânica que tem na matriz de origem, House Of Cards ganhou vida própria nesta adaptação. E num ano politicamente tão cheio de incertezas como é o 2017 que temos pela frente, o que acontecerá na Washington DC dos Underwood?… A resposta chegará em breve, em novos episódios. – N.G.


3. “Narcos”, de Chris Brancato, Carlo Bernard e Doug Miro
(Netflix)

Em 2017, terá que provar que consegue sobreviver, na sua narrativa e junto das audiências, sem a bengala do seu protagonista, Pablo Escobar, interpretado de forma ainda mais convincente desta vez por Wagner Moura, com a sua morte no final desta segunda leva de episódios. Mas o caminho traçado até aqui mostra que Narcos, a série da Netflix sobre o mundo do narcotráfico na Colômbia na década de 80, tem todas as ferramentas para o fazer. Este ano, a trama criada pelo trio Chris Brancato, Carlo Bernard e Doug Miro tornou-se ainda mais dinâmica ao explorar a influência do império de Escobar mas também a sua vertiginosa queda. Além disso, as noções do que é o bem e o mal ficaram ainda mais dissimuladas na segunda temporada, o que a tornou mais interessante, com a decisão de não manter as personagens totalmente num dos lados desta “guerra” na cidade de Medellín, como aconteceu, a olhos vistos, com o agente da DEA Peña (ao qual dá vida Pedro Pascal). – Nuno Cardoso

4. “Mr Robot”, de Sam Esmail
(Universal)

Num tempo de explosão de produção entre a ficção televisiva, as séries (as estreantes e as novas temporadas de outras já em exibição) surgem que nem cogumelos em terreno húmido… Há de tudo… Do bom, do mau, e do deixem-estar-que-já-mudei-de-canal… E, entre tantas e tantas, por vezes surge uma ou outra que se destaca sobre quase todas. E, das que surgiram nos últimos tempos, Mr. Robot é das que mais justificaram o entusiasmo partilhado entre tanta gente, gerando mesmo um dos mais claros exemplos do “passa a palavra” que pôs meio mundo a ver os episódios. Criada por Sam Esmail, a série tem como protagonista um hacker bem-intencionado que, tal como Dexter “limpava” os maus da fita (mas por via digital e sem assassinatos), segundo um código que lá teria a sua muito peculiar ética, também a figura de Elliot Alderson (magistralmente interpretado por Rami Malek, num caso notável de bom casting) é a de um homem com dois rostos, um público e um privado, com um mundo interior cheio de fantasmas e memórias difusas que, aos poucos, vão emergindo. E desde o início juntou ao cuidado na escrita (belíssimo argumento) um investimento igualmente claro na direção artística e na própria construção de uma identidade pop através da música. Com a primeira época já disponível em suportes home vídeo e uma segunda a chegar a DVD e Blu-ray em janeiro, Mr. Robot é um valor seguro da produção televisiva atual.

5. “Black Mirror”, de Charlie Brooker
(Netflix)

Série de origem inglesa, criada por Charlie Brooker e originalmente no ar entre 2011 e 2014, regressou aos ecrãs e sob o selo Netflix. É, afinal, uma combinação que tem tudo para dar certo: à visão distorcida da era tecnológica de Brooker junta-se, em boa hora, o poderio financeiro e de divulgação da multinacional – e por boa causa. Restava averiguar se as tão afinadas sensibilidades da série se desvirtuariam em favor do apelo massificado ou se, por outro lado, seriam amplificadas e, com elas, a sua mensagem. Brooker não é, no entanto, argumentista de medir palavras, e a terceira temporada de Black Mirror é a mais recente experiência televisiva a comprová-lo. A gaveta de “ficção científica” em que a série é repetidamente colocada dificilmente lhe faz justiça na íntegra, já que o ambiente mais ou menos futurista em que invariavelmente se passa serve apenas de pretexto para o que, de maneira bastante perceptível, realmente interessa a Brooker: as pessoas, seus pensamentos e suas acções sob circunstâncias porventura não tão distantes de nós próprios. E estas acções, que geralmente desembocam na tremenda angústia de uma ou todas as personagens envolvidas, surgem sempre como resultado de um ambiente de constrangimentos e normas sociais que, embora amplificados, referenciam sempre, directa ou alegoricamente, o contemporâneo. – Pedro Miranda

6. “Better Call Saul”
de Vince Gilligan e Peter Gould (Sony Pictures Television)

Quando Bob Odenkirk (que iniciou a carreira como argumentista de Saturday Night Live) começou a interpretar Saul Goodman, uma personagem da série Breaking Bad, criada por Vince Gilligan, esperava-se que fosse uma personagem de fundo, com um cariz sobretudo cómico. A partir da terceira temporada, no entanto, tornou-se uma das personagens preferidas dos fãs e uma das mais decisivas no desfecho da série. De tal forma que Gilligan se juntou a Peter Gould (argumentista de Breaking Bad) para se concentrar agora apenas no protagonista de Better Call Saul. A história de Saul Goodman entra aqui por caminhos bem mais negros, mostrando um passado com muitos desgostos e desilusões. Revelando que o nome de Saul é, na verdade, Jimmy McGill, a série volta a um período anterior aos eventos de Breaking Bad e revela como Jimmy se tornou, pouco a pouco, o advogado sem ética profissional mas, bem lá no fundo, com bom coração e alguma moral. Ou seja, o advogado que conhecemos como Saul Goodman. Tanto Gilligan e Gould como Odenkirk, Rhea Seehorn e Jonathan Banks (que “ressuscita” outra personagem de Breaking Bad) têm sido e continuam a ser nomeados e premiados pela crítica. Este ano foi o da segunda temporada mas vem aí mais. – João Santana da Silva

7. “The Night of”
de Richard Price e Steven Zaillian (BBC)

A série parte de um crime cometido numa noite em que um jovem de origem muçulmana encontra uma rapariga da parte rica de Nova Iorque. Ela surge assassinada e não temos a certeza se foi ele quem a matou. Nem ele próprio o sabe (é complicado), mas insiste na sua inocência porque se julga incapaz de cometer um crime. No entanto, para a polícia as provas da sua culpa parecem óbvias e o seu encarceramento é imediato. Mais do que focar-se em saber quem cometeu o crime, The night of mostra-nos o que está por trás de um processo de acusação e defesa que acaba por arrastar um “presumível culpado” pela prisão e, aí sim, acabar por forçá-lo a cometer actos criminosos. A mini-série de oito episódios foi um dos marcos televisivos do ano e cumpre exemplarmente o seu objectivo de nos contar uma história que vai levantando dúvidas e apresentando dilemas morais capazes de suscitar acesos debates sobre o estado da sociedade (e nem precisa ser apenas a americana). Desde A Escuta/The Wire que não tínhamos um drama tão lúcido e empenhado em mostrar os bastidores do engenho da lei e o seu impacto social. São incontáveis as séries de crimes e advogados, mas pouquíssimas as que se permitem olhar tão friamente para o sistema jurídico e penal, apontar para as feridas e depois atrever-se a pôr lá o dedo até doer. A destacar-se no elenco impecável está John Turturro, o advogado de defesa, que tem aqui um dos papéis mais marcantes da sua carreira. É na sua personagem que reside o eixo moral desta história e ele consegue um desempenho digno de todos os prémios que lhe possam dar. – Daniel Barradas

8. “The Get Down”
de Baz Luhrman e Stephen Adly Guirgis (Netflix)

Meses depois de, através de Vinyl, termos experimentado – via HBO – um mergulho nas memórias rock’n’roll da Nova Iorque dos anos 70, uma outra ficção criada para o grande ecrã volta a tomar a mais criativa das décadas da história pop/rock da cidade como cenário para uma ficção que tem também a música na alma. Com Baz Lurhman como uma das principais forças criadoras (tendo ele mesmo realizado o espantoso episódio-piloto – The Get Down toma essencialmente o Bronx como foco central de uma narrativa que, projetada em 1977, acompanha um tempo em que o disco sound chegou ao mainstream e o hip hop começa a dar os primeiros passos, a cativar primeiras plateias e a gerar as bases de uma cultura que traduz a identidade do quem, quando e onde dos que a ali estavam a viver. The Get Down tem uma cautela enorme no dosear dos factos musicais entre uma história que, antes do mais, cuida bem da construção das personagens e do contexto que acaba por fazê-las quem são. Mas tem também cautela em não reduzir os acontecimentos a um duelo a preto e branco feito de disco sound e hip hop. E a forma como, discretamente, num dos episódios, nos é lembrado (numa sequência em Manhattan) que o punk está também a fazer história e tem os Ramones entre os seus heróis ou, pouco depois, e com mais cor, som e movimentos, é feita uma incursão numa das primeiras manifestações do vogueing, encontramos em The Get Down uma vontade em lembrar que, afinal, tudo isto estava ligado… – N.G.

9. “A Guerra dos Tronos”
de David Benioff e D. B. Weiss (HBO)

Com um orçamento de dez milhões de dólares por episódio – um sonho para qualquer produtor de televisão -, uma máquina oleada, e uma legião de fãs à escala global, é difícil errar em A Guerra dos Tronos. A sexta temporada da trama da HBO, a primeira sem os livros de George R. R. Martin como base, voltou a ser sinónimo de ficção de qualidade no pequeno ecrã. Se houve períodos mornos ao longo dos dez episódios? Houve, mas compensados por outros marcantes. Exemplos disso são a evolução no caráter e no percurso para as manas Stark (Sophie Turner e Maisie Williams), o arranque de Daenerys (Emilia Clarke) rumo ao Trono de Ferro ou o tão mediático ressurgimento de Jon Snow (Kit Harington). Mas mais do que isso, duas cenas em especial marcaram a temporada. A primeira, a batalha entre Snow e Ramsay Bolton (Iwan Rheon) e respetivos aliados: 20 minutos de complexidade técnica que exigiu um mês de rodagem. A segunda, a épica vingança de Cersei (Lena Headey) ao explodir com parte de King’s Landing, e com esta vários inimigos: um crescendo que culmina em clímax e que deixou vários fãs revoltados nas redes sociais pelo esquecimento de Ramin Djawadi, compositor de Light Of The Seven, tema desta cena, nas nomeações para Melhor Banda Sonora nos prémios Emmy. Reveja aqui. – Nuno Cardoso

10. “Marte”
de Ben Young Mason e Justin Wilkes (National Geographic)

A ideia foi defendida por Carl Sagan num episódio da série Cosmos ao qual chamou Blues For a Red Planet: a história de Marte conta-se (naturalmente) pela ciência; mas a ficção pode ter também ali um papel a desempenhar. A série, apresentada pela National Geographic, parte dessa dualidade numa série onde não só se cruza a ciência e a ficção, mas também o registo documental com uma trama que evolui com atores, cenários e toda uma narrativa que nos leva… até ao planeta vermelho. Marte parte da adaptação do livro How To Live On Mars?, de Stephen Petranek. para nos colocar, ora num plano de ficção no qual acompanhamos uma primeira missão tripulada ao planeta vermelho entre 2033 e 2037, cuja ação evolui em paralelo com “regressos” a 2016, o presente no qual uma série de figuras ligadas à exploração espacial, engenharia, à divulgação científica ou a projetos centrados na possibilidade de uma colonização do quarto planeta do Sistema Solar, vão comentando as hipóteses que temos em jogo no presente e as que o tempo em breve colocará pela nossa frente. E é neste plano documental que surgem figuras como Neil deGrasse Tyson (que assinou uma sequela do Cosmos de Sagan), nomes como Robert Zubrin e Stephen Petranek, autores de importante bibilografia sobre a conquista marciana, ou escritores como Andy Weir, o autor de O Marciano, que Ridley Scott adaptou ao cinema em 2015. O mais presente dos rostos é contudo Elon Musk, cuja empresa Space X é parte interessada na hipótese de levar o homem a Marte. – N.G.

1 Comment on As dez melhores séries de 2016

  1. Excelente selecção. Não deixa de ser curiosa a presença da Netflix na produção de apreciadas séries, que já não são só de TV.

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