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O melhor de 2016, por André Lopes

Passados 12 meses, um olhar retrospetivo sobre o tempo que passou possibilita o confronto com memórias vívidas de ocorrências tumultuosas. No ano em que viu Donald Trump subir à presidência dos Estados Unidos da América, a paisagem cultural vigente soube adaptar-se e moldar-se a uma série de acontecimentos sociopolíticos. Mais do que uma questão de flexibilização de moldes, entra por aqui em cena a maneira como a música é tão facilmente permeável, enquanto forma de expressão, à inclusão de mensagens que exijam do ouvinte uma tomada de posição. Discos como AIM ou HOPELESSNESS são dois casos especialmente curiosos. No primeiro, M.I.A. busca e alcançar uma certa geopolítica pessoalizada no seio das sonoridades que desde Arular (2004) soube incutir na consciência coletiva. Com uma abordagem explícita – ainda que forrada de retórica – sobre a problemática dos refugiados, este é um disco que encontra paralelo em termos de frontalidade com o primeiro trabalho de Anohni em nome individual. Em jeito de farsa ou armadilha, a premissa de que HOPELESSNESS seria um disco “eletrónico” quase capaz de se expandir pelas pistas de dança não serve para representar o significado da obra. Por via de um impulso ritmo bem distinto do que ouvimos no repertório de Antony and the Johnsons, a coreografia, a existir por aqui, é funesta e exigente. Apesar de não integrarem os primeiros lugares destade escolhas referentes a 2016, são ambos discos que constituem fortes ponto de interesse.

Segundo um referencial identitário pelo qual discos e canções expressam e ajudam a compreender um pouco mais sobre os seus criadores, 2016 foi particularmente enriquecedor para Nick Cave, Bon Iver, Solange, porém foi de David Bowie que registámos a marca mais vincada. O ano da sua morte foi também aquele que viu surgir o disco mais desafiante do artista britânico eventualmente desde 1. Outside (1995).

Dito isto, confesso que me é absurdo pensar na música enquanto arte, de forma estritamente qualitativa. Criar uma hierarquização em relação a uma forma de expressão artística é demasiado absolutista especialmente quando em causa está aquilo que para muitos serve de escape. Mediante afinidades ou critérios pessoais, aquilo que cada um valoriza na música ser-lhe-á, ou nos casos mais interessantes assim será, único. Ou pelo menos exclusivo de acordo com as prioridades que cada um atribuí ao ritmo, à melodia, à poesia e a tudo o que circunda esta última.
Desta forma, as listas que apresento seguem uma ordem focada somente na frequência de audição. Os títulos escolhidos dizem por seu lado aos álbuns que considerei – a nível pessoal – construir e constituírem em si mesmos um conjunto excecionalmente interessante de canções capaz de figurarem como peças-chave para um futuro ainda por trilhar.

1. Blood Orange – Freetown Sound
2. David Bowie – Blackstar
3. Radiohead – a moon shaped pool
4. The 1975 – I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful Yet So Unaware of It
5. Beyoncé – Lemonade
6. Pet Shop Boys – Super
7. Rufus Wainwright – Take All My Loves: 9 Shakespeare Sonnets
8. Tim Hecker – Love Streams
9. Vários artistas – Mambos Levis d’outro Mundo
10. Jenny Hval – Blood Bitch

Reedições:
David Bowie – Who Can I Be Now?
Fleetwood Mac – Tusk
Stevie Nicks — Bella Donna

Redescobertas:
Rádio Macau — Rádio Macau (1984)
Dina — Dinamite (1982)
Grace Jones — Slave to the Rhythm (1985)

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