A geometria da chuva
Texto: GONÇALO COTA
A partir de Music for 18 Musicians de Steve Reich, o bailado contemporâneo de Anne Teresa De Keersmaeker, que converge a exaustividade a matematização do espaço, foi apresentado ontem e repete hoje no Grande Auditória do Centro Cultural de Belém.
Dezasseis anos depois da estreia, a remontagem de Rain continua a construir-se na sua especificidade músicas e roupas minimalistas, mas onde a ocupação do espaço, delimitado por finas cordas brancas, é construído num modelo artístico que dá primazia à repetição exaustiva e às variações matemáticas – génese criativa é claramente estruturada através da forma das espirais, que marcam num rigor obsessivo toda a velocidade extrema dos movimentos.
Nos setenta minutos de espetáculo, percetivelmente faseados pelas alterações de guarda-roupa e de luzes, que rapidamente alternam entre os tons vibrantes fúcsia e a neutralidade do creme, as sete bailarinas e três bailarinos desmaterializam-se de fatiga e sustentam a sua vitalidade numa conexão metahumana entre si.

Deixe um comentário