“3121”: para consolidar um episódio de reencontro
Texto: NUNO GALOPIM
Depois de ter editado três álbuns em 2004 (se bem que dois deles apenas em suportes digitais e reunindo algumas canções já com algum tempo de vida), Prince passou o ano de 2005 um tanto afastado das atenções, dedicando algum dos seu tempo à criação de um disco de uma nova protegida, Támar Davis, que acabaria por não conhecer a luz do dia (tendo mesmo assim algumas cópias chegado aos circuitos do colecionismo a preços altíssimos). O silêncio era contudo aparente e, em dezembro de 2005 convocou uma conferência de imprensa na qual não só lançou um novo single – a balada Te Amo Corazón – como anunciou a edição de um novo álbum de estúdio, assim como um acordo com uma nova multinacional (a Universal) pela qual o disco teria distribuição.
Se a canção colocava em cena uma balada sem grandes surpresas face ao que havia sido o passado recente da música de Prince já o álbum, que chegaria na primavera de 2006, sublinhou o bom momento entretanto sugerido em 2004 pelo impacte de Musicology. De resto, e mesmo tendo a semana de lançamento de Musicology revelado vendas mais significativas, 3121 foi o primeiro disco de Prince a fazer uma entrada direta para o número um na lista dos mais vendidos nos EUA desde Batman, em 1989.
O álbum teve melhores momentos mediáticos nos dois singles subsequentes – Black Sweat (um dos melhores singles de Prince na primeira década do século XX) e Fury – mas na essência revelou um alinhamento relativamente canónico, não procurando distanciar-se muito daquilo que revelara em Musicology, embora abrindo mais interessantes frestas tanto na exploração de memórias como no estabelecimento de relações com os acontecimentos de então no mundo musical ao seu redor.
Sob uma matriz funk e R&B que definem o tutano central dos acontecimentos o alinhamento junta ora um piscar de olho a um modo de estabelecer pontes com a canção pop quase ao jeito dos tempos dos Revolution (em Lolita ou Fury) como trabalha, em Black Sweat, uma forma de repensar relações com o electro (reativando ecos de memórias da alvorada dos oitentas) num quadro funk, traduzindo a produção e o trabalho vocal marcas de contemporaneidade que evitam a mera citação nostálgica. Num quadro mais minimalista ainda Love define outra abordagem angulosa às eletrónicas e a memórias remotas da obra de Prince na passagem dos setentas aos oitentas.
Outra evidência dos “sinais dos tempos” surge em Incense and Candles, canção que recorre ao trabalho com auto-tune no processamento da voz de Prince. Já em The World (que depois com Black Sweat é o outro momento maior deste disco) desenha uma outra forma de pensar o modelo da canção romântica, escapando aos modelos R&B para definir entre ambientes desenhados a teclas e o calor de uma guitarra acústica um dos episódios mais saborosos (e com sabor a surpresa) no alinhamento deste disco.
De Támar temos aqui a memória de uma participação no pouco surpreendente Beatutiful, Loved and Blessed.
Sobre o título do álbum muito se especulou. Se por um lado traduzia o número pelo qual se identificava a residência californiana de Prince (na qual foi dada uma festa de lançamento do disco à qual foram convidados fãs que encontraram convites na linha dos golden tickets de Willy Wonka), por outro pode significar também que este é o 31º álbum de Prince e que foi editado no dia 21 (de março)…
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