A grande arte da salada
Texto: DANIEL BARRADAS
O novo álbum da banda francesa Isaac Delusion não é exactamente o primeiro prato que nos servem mas sempre foi difícil concluir qual era o verdadeiro “sabor” da banda.
Chega agora Rust & Gold que é daquelas maravilhas que devem muito ao acaso. Em vez de arrumarem os seus ingredientes musicais e seguirem uma receita, os Isaac Delusion partem para o acto arriscado de juntar tudo na mesma tigela e servem uma grande salada. E o resultado… é delicioso!
É difícil colar uma etiqueta a este disco e a esta banda. Começa pela voz do cantor que ora se aproxima a Anohoni ora a Jimmy Sommerville. Comparações aos dinamarqueses When the Saints go Machine também são válidas.
As canções vão de um disco sound de beira de piscina capaz de evocar uns Daft Punk (How much) até à soul da Mowtown (Black Widow) e, pelo meio, não há medo de usar samples de música folclórica dos andes (Voyager) ou de mudar de língua para cantar Cajun, que nos remete para ambientes próximos dos de François & the Atlas Mountains.
No meio de todas estas influências e referências seria de esperar uma perda de identidade, mas a banda gere tudo isto airosamente e em faixas como Distance ou Isabella começa a emergir o que poderá ser a sua essência futura.
O certo é que esta inusitada salada de estilos resulta num álbum extremamente refrescante e as referências que reconhecemos aqui e ali assemelham-se a um piscar de olho que vem sempre com um sorriso, como que a dizer, “sim é isso, mas não é o que importa”. E no final, depois de 12 ligeiras mas desafiantes canções, sentimo-nos perfeitamente satisfeitos. Quem diria que tão grande salada resultaria em bela refeição gourmet?
Este vai estar de certeza na minha lista de melhores discos do ano.
“Rust & Gold” dos Isaac Delusion está disponível em LP, CD e também nas plataformas digitais numa edição pela Idol. ★★★★
Podem ouvir o disco aqui.
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