A textura da canção
Texto: DANIEL BARRADAS
Se a carreira de Thomas Dybdahl começou por o mostrar como prolífico compositor de canções, a partir de Science (2006) tem vindo a provar que é também um excelente artífice da paisagem sonora. As imaculadas produções e a sua inventividade na criação de texturas e de timbres fazem de cada um dos seus álbuns uma delícia sonora.
Waiting for that one clear moment, de 2010, mostrava-o no auge da sua forma, a deixar as composições seguir uma lógica mais ligada ao diálogo entre os sons do que às formulas estafadas da canção pop/folk. É raro surgirem álbuns como esse eWaiting for that one clear moment permanecerá provavelmente tão intemporal como um Spirit of Eden dos Talk Talk (1988).
Infelizmente, Dybdahl deu seguimento à sua carreira com uma tentativa de conquistar o mercado americano com a colectânea Songs e o álbum de originais What’s left is forever (2013), que, não sendo mau, também não trazia nada de verdadeiramente novo ou entusiasmante.
Surge agora The great plains onde parece ter finalmente encontrado o compromisso ideal entre a invenção sónica, a produção cuidada e a escrita de canções.
O álbum abre lentamente com Paradise Lost que é de um total anti-comercialismo mas capaz de fazer as delícias de qualquer vendedor de sistemas de alta fidelidade. Ao longo de todo o disco a qualidade sonora é tal que nela quase se pode tocar (sente-se o som tridimensional no ar, experimentem aí em casa…).
Esta é uma colecção de canções despretenciosas, que vão do extremo intimismo de Bleed até à efusiva pop de Just a little bit, canção capaz de dar uma lição de composição/produção a qualquer “máquina de êxitos” do momento.
É talvez pouco sensato continuar a comparar o trabalho de Dybdahl com o seu momento alto de 2010. Não fosse isso e The great plains mereceria elogios mais rasgados da minha parte. Mas este é sem dúvida um ramalhete de bonitas canções, prazenteiras e cheias de pormenores sonoros capazes de recompensar repetidas audições. Dediquem-lhe o tempo e a aparelhagem sonora que merece.
“The great plains”, de Thomas Dybdahl é uma edição da Petroleum Records disponível em LP, CD e nas plataformas digitais ★★★
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