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Dez memórias clássicas (menos habituais) do Festival da Eurovisão (4)

Seleção e textos: NUNO GALOPIM

Na semana que antecede a edição deste ano do Festival da Eurovisão recordamos aqui dez canções que fazem parte da sua história mas que estão longe de habitar entre as suas memórias mais canónicas.

Em tempo de contagem decrescente para Kiev, nada como viajar pelo tempo para lembrar alguns episódios menos falados achados entre memórias que fazem a história do Festival da Eurovisão. Algumas destas canções juntam até figuras de relevo, mas nenhuma delas venceu o concurso nem representou um daqueles casos de êxito global que lhes permitisse habitar aquelas antologias que recordam canções de outros tempos.

Depois de no ano passado termos revisitado canções recentes por esta mesma altura, desta vez mergulhamos entre memórias bem mais antigas…

1968. “Verão”, de Carlos Mendes
(Portugal)

Depois de haver um clima de modernidade com travo pop nos arranjos das canções que representaram Portugal na Eurovisão em 1966 e 67 – respetivamente com Ele e Ela de Madalena Iglésias e O Vento Mudou de Eduardo Nascimento – coube à primeira ida de Carlos Mendes ao concurso a esteticamente mais desafiante das canções desta primeira etapa da presença portuguesa por aqueles palcos. Numa das etapas da história do concurso em que houve sinais de entendimento com os caminhos de contemporaneidade em vários domínios da canção popular, a presença de Verão na edição de 1968 – realizada no Royal Albert Hall, em Londres – representou até o momento em que alguns temperos (mesmo discretos) então refletidos pelo psicadelismo na canção pop se refletissem, através desta participação, em cenário eurovisivo. A canção ficou em 11º lugar.

1963. “L’Amour s’em Va”, de Françoise Hardy
(Monaco 1963)

A edição de 1963 fez desse um ano de charneira na história dos primeiros anos do Festival da Eurovisão ao abrir frestas mais evidentes no diálogo com a contemporaneidade musical e com uma maior valorização do fator “juventude”, refletindo a presença de Françoise Hardy uma evidência desses dois elementos que teriam contudo maior impacte nas votações nos anos seguintes. Françoise Hardy era já um nome popular em França e nos demais territórios francófonos (e entre nós teve também enorme sucesso) depois do êxito obtido em 1962 com o hino pop juvenil Tous Les Garçons et les Filles, que de certa forma precede as movimentações yé yé (que em solo eurovisivo teriam consagração em 1965 com France Gall e Poupée de Cire Poupée de Son). Da autoria da própria Françoise Hardy L’Amour s’em Va é uma balada na linha das muitas que a cantora gravou nos anos 60. Ficou em 5º lugar.

1964. “Jij bent mijn leven”, por Anneke Grönloh
(Holanda)

Até 1963 o Festival da Eurovisão poderia ser alvo de uma crítica no plano Eurovision-so-white… E quem rompe o padrão até ali em voga é Anneke Grönloh. Natural da Indonésia (nasceu em 1942 em Tondano, quando o território era ainda província colonial holandesa), viveu os primeiros anos da sua vida num território sob ocupação japonesa e chegou a estar encerrada com a família num campo de concentração. Depois da guerra mudaram-se para a Holanda onde, em finais de 1959, Anneke iniciou uma carreira discográfica que dela fazia já um nome com notoriedade local quando, em 1964, foi escolhida para representar o país na edição desse ano do Festival da Eurovisão, em Copenhaga. No mesmo ano em que Portugal se estreava no concurso e a vitória sorria, bem destacada, à italiana Gigliola Cinquetti, Anneke Grönloh teve no seu Jij bent mijn leven um dos primeiros exemplos de flirt com terrenos da pop… O “europop” (que seria consagrado em 1967 com Puppet on a String, começava a nascer por aqui. Ficou em 10º lugar.

1967. “Boum Badaboum”, por Minouche Barelli
(Mónaco)

Não era a primeira vez que uma canção de Serge Gainsbourg concorria ao Festival da Eurovisão. Nem seria a última. Estreara-se em 1965, e logo com uma vitória, ao sabor yé yé de Poupée de Cire Poupée de Son, na voz de France Gall e em representação do Luxemburgo. Regressaria bem mais tarde, em 1990, com Joelle Ursul e White and Black Blues (pela França). Mas em 1967 apresentou a mais ousada das três canções que levou a palco eurovisivo. Em representação do Mónaco, e na voz de Minouche Barelli, a segunda contribuição de Serge Gainsbourg para esta história é uma das primeiras canções pop da história do concurso a assinalar aventuras para lá das formas mais canónicas, apostando numa insistente estrutura rítmica (vincada pelo arranjo para orquestra) para sublinhar a história de alguém que pede tempo para amar quando o mundo parece estar na iminência de poder acabar. Ficou em 5º lugar. Merecia melhor…

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