O sonho marciano (com recados nas entrelinhas)
Texto: NUNO GALOPIM
O presente entusiasmo por um futuro que toma o planeta Marte não apenas como espaço a explorar mas, também, a colonizar, tem justificado a crescente aposta do mundo do audiovisual na produção não apenas de filmes de ficção com o planeta vermelho por cenário mas também de documentários que o tomem por objeto da nossa atenção (como foi o caso da série produzida pela National Geographic que tanto deu que falar). The Mars Generation é mais um exemplo deste foco de atenções apontado a esse futuro e a este planeta vizinho. Produzido pela Netflix e em grande parte rodado no Space Camp no Alabama (um projeto educativo na área da aeronáutica e da astronáutica), o filme acompanha uma série de jovens cujos objetivos profissionais e de vida parecem já bem definidos: querem viver e trabalhar ou em Marte ou entre os programas der investigação que lá permitirão que o homem chegue.
Parte do filme, realizado por Michael Barnett, acompanha os jovens entusiastas da conquista de Marte, mostrando-os a cumprir as tarefas (entre as quais as simulações) que fazem o quotidiano das suas passagens pelo Space Camp. Há depois uma vontade do filme em contextualizar a história na qual esta nova aventura se enquadra. E aí o regresso a Von Braun, aos projetos Mercury, Apollo ou Space Shuttle, acrescentam excesso de informação que dilui a vários momentos o foco que a narrativa parecia conduzir.
Mais duvidosa é contudo a forma como o filme se parece mostrar como uma nota em favor da entrega deste terreno da aventura espacial à iniciativa privada, sugerindo que chegar a Marte será incomportável no quadro dos orçamentos destinados à Nasa. Se por um lado é verdade que o cenário dos anos 60 que abriu caminho à Lua dotou a agência espacial norte-americana de fundos invulgarmente avultados, não deixa de ser lícito pensar que, a investir no espaço, a iniciativa privada terá naturalmente justificáveis objetivos de lucro, o que leva a pensar onde serão então poupados gastos que, de outra forma, poderiam estar nos orçamentos… Este, de resto, é um dos debates do nosso tempo no plano da investigação espacial. E se Marte, da National Geographic, piscava já em demasia o olho ao papel da SpaceX e de Elon Musk neste terreno, The Mars Generation parece usar uma história aparentemente lúdica e inocente para, nas entrelinhas, lançar mais umas achas na fogueira que parece querer atear… Dá que pensar, não é?
“The Mars Generation”, de Michael Barnett , está disponível na plafatorma de setreaming Netflix.
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