E do diálogo faz-se um disco
Texto: NUNO GALOPIM
A música pode ser expressão de uma voz criativa. Mas pode ser também espaço de colaboração, partilha, de diálogo. E 1986 é um claro exemplo de como duas personalidades se podem juntar no espaço comum de um disco, juntando ideias, trocando vozes, procurando pelo exercício da soma a descoberta de um caminho uno.
Eles são o português Benjamim e o inglês Barnaby Keen (este segundo uma figura ligada a vários projetos da cena alternativa pop/rock made in Londres). As regras de trabalho que tinham eram bem simples: cada um escrevia quatro canções, que o alinhamento teria de intercalar. E depois cada qual colaborava nas criações do outro. Seja como segunda voz, partilhando instrumentos… E surge assim um pingue pongue que, de figuras diferentes faz nascer um álbum que encontra a sua personalidade na assimilação das diferenças e nuances que cada qual junta ao que faz.
As duas línguas (o português e o inglês) acabam por fazer parte de um diálogo partilhado pelos dois músicos, tal e qual acontece com as composições e os pontos de vista que a abordagem instrumental depois concede. Piano, saxofone, bateria, guitarras, um baixo e a presença de uma flauta desenham cores que, tal como nos exercícios de partilha do canto e dos instrumentos, acabam também assim a partilhar referências que se diluem num corpo só. Experiência bilingue, mas capaz de comunicar em ambos os idiomas, o álbum é feito de canções soalheiras e frescas e junta, com os seus oito temas, uma peça muito interessante (e deliciosa de escutar) num momento em que a música que se faz entre nós parece refletir o gosto em falar para nós e para aqueles que para nós olham com outra atenção. Não podia ser mais à la 2017 o que escutamos neste 1986!
“1986” de Benjamim e Barnaby Keen é uma edição da Pataca Discos para já disponível em plataformas digitais e que, em breve, terá um lançamento em suporte de vinil. ★★★★
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