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O cinema fofinho chegou a Marte

Texto: NUNO GALOPIM

“O Espaço Que Nos Une” tenta unir o presente encantamento por Marte com os ingredientes de uma trama típica de romance “teen”. E acaba num dos mais valentes tropeções da história recente do cinema marciano.

Já percebemos todos que Marte está na moda… Da visão à la McGyver de O Marciano de Andy Weir (que Ridley Scott levou ao grande ecrã) à série documental que a National Geographic apresentou, não têm faltado motivos para que o Planeta Vermelho esteja na berlinda. Na verdade está longe de ser novidade uma relação do cinema com Marte. Há uma curta que enceta esta história em 1910 e, ainda antes do som ter entrado em cena, duas das primeiras grandes produções dos primeiros tempos do cinema de ficção científica tiveram Marte como destino… The Space Between Us (que entre nós estreou com o título O Espaço Que Nos Une) chega aos ecrãs um século depois da primeira dessas longas-metragens (Himmelskibet, de Holger-Madsen)… E levanta inclusivamente uma premissa interessante… Mas acaba rendida a elementos para seduzir plateias teen. E no fim errou no alvo, resultando num redondo falhanço.

A ideia com que parte a narrativa é interessante (se bem que trata como nabos os serviços clínicos da agência espacial que deixam partir para Marte uma astronauta grávida). A comandante da primeira missão destinada a habitar durante quatro anos a colónia de New Texas, algures junto ao rebordo de uma cratera em Marte, morre no momento do parto. E por decisão política, o caso fica sob segredo… 16 anos o segredo é um adolescente (interpretado por Asa Butterfield) que, criado por cientistas, sabe mexer-se nas máquinas e entra em contacto regular com uma rapariga em Tulsa… E quando instâncias mais altas decidem tentar trazê-lo à Terra, eis senão quando resolve fugir, mesmo antes de concluídos os exames médicos que procuravam avaliar a sua capacidade em sobreviver num mundo com características físicas bem diferentes daquelas em que se desenvolveu (até mesmo como feto). E não será surpresa imaginar que, mesmo sendo instalados no seu corpo implantes que promovam a resistência da sua estrutura óssea a uma força da gravidade bem mais intensa do que a marciana, os testes não são favoráveis. Mas quando os resultados chegam o moço, que é esperto, já fugiu…

Se, mesmo com aquela fresta de atenção inicial pouco realista, a premissa do nascimento secreto em Marte revela um ponto de partida potencialmente para a história, a evolução da trama tropeça numa série de lugares comuns do filme teen romântico, sem faltar a inevitável cascata de episódios de baba e ranho… Como se não bastasse, o jovem marciano não só vai atrás da jovem terráquea (que, inevitavelmente, é problemática) como quer também ver, nem que por um instante, o seu pai…

Não será de estranhar que, com Marte cada vez mais feito cenário mainstream, apareçam mais propostas que transcendam as tramas mais clássicas de ficção científica e até de terror em que tinham até aqui ocorrido a maior parte destas narrativas… Mas não era má ideia que, no futuro, a coisa fosse menos banal… Menos de receita fácil. Mesmo que fofinha.

PS. O próprio box office foi uma catástrofe, o que dará que pensar a muito boa gente na hora de pensar o próximo episódio da “marsxploitation”…

“O Espaço Que Nos Une”, de Peter Chelsom, com Asa Butterfield, Gary Oldman e Carla Gugino, está agora disponível nas plataformas de VOD

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