Uma revista para quem gosta de discos em vinil
Texto: NUNO GALOPIM
É verdade que é um consumo de nicho. Mas é verdade também que tem vindo a crescer de ano a ano, somando aos velhos cultores do formato novas gerações de adeptos… Mais dia menos dia teria de surgir uma publicação essencialmente votada ao… vinil. É claro que publicações como a Record Collector e outras mais nunca deixaram de prestar atenções aos discos em vinil. A nova revista Long Live Vinyl tenta fazer uma abordagem a este universo que joga no diálogo entre o velho e o novo, entre quem compra e quem vende, entre lojas e feiras, entre clássicos e novas edições. E, contra a (dominante) desmaterialização da música, oferece aos melómanos páginas para ler sobre a dedicação aos discos, aos locais onde os encontramos, aos os que os colecionam.
Lançada pelo mesmo grupo que publica a Classic Pop, a nova revista – que vai já no seu terceiro número – não é talvez espantosamente surpreendente no tipo de conteúdos que propõe. Mas serve com noticiário, críticas e reportagens os interesses do consumidor médio de música editada em vinil.
Este terceiro número inclui, além das secções fixas, uma reportagem numa gigantesca feira de discos em vinl que decorreu recentemente em Utrecht, na Holanda. Com 550 stands, tendo recebido 25 mil visitantes, a Mega Record & CD Fair (sim, não exclui outros formatos) é uma imagem de paraíso para consumidores e colecionadores de todas as músicas.
O artigo central desta edição é contudo um trabalho extenso sobre o crescimento do mercado de música gravada em vinil nos últimos anos. O texto toma como universo central da sua análise o mercado britânico no qual se passou de um volume de vendas anual na ordem dos 400 mil discos em 2012 para valores de 3,2 milhões em 2016 (que correspondem atualmente a 5 por cento das vendas de álbuns). Por curiosidade uma tabela mostra que Blackstar, de David Bowie, foi o disco em vinil mais vendido no ano passado, seguido por Back to Black de Amy Winehouse e da banda sonora de Guardians of The Galaxy.
Este número da Long Live Vinyl inclui ainda um guia das lojas de discos de Bristol, uma lista dos 40 discos essenciais que marcaram o fenómeno da northern soul (que não esquece nomes como os The Dells, Marvin Gaye ou Harold Melvin & The Blue Notes), um historial da Beggar’s Banquet, artigos sobre os Kasabian, os Cream e um foco mais aprofundado sobre o álbum Harvest, de Neil Young.
Nascida na idade da globalização da informação, a revista peca contudo pelo olhar demasiado “brit” da coisa. Não lhe fazia nada mal, além da reportagem na feira na Holanda, dedicar os retratos de lojas (aqui fala de uma em Cardiff) ou os guias das cidades a realidades do lado de cá do canal da Mancha. O Brexit, nisto dos discos, também é coisa para dar que pensar…
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