Um enxame de boas surpresas
Texto: NUNO GALOPIM
Não têm sido, ao longo da sua história, uma banda no mais clássico sentido do termo já que, na verdade, apenas Andrew Graham tem sido o seu elemento fixo, chamando a cada novo disco aqueles com quem faz sentido trabalhar. E por várias razões, têm sido nome pouco escutado fora dos espaços mais atentos aos acontecimentos indie. Em Surreal Number o coletivo com sede em Columbus, no Ohio, que se apresenta apenas como Swarming Branch revela-nos um álbum que, se os ventos soprarem atenções na sua direção, lhes poderá dar outra visibilidade.
Pela sua música – mais arrumada e direcionada do que em discos anteriores, se bem que em Classic Glass, de 2013, já houvesse boas pistas ali sugeridas – há ainda as evidentes marcas dylanescas que lhe conferem parte de uma inscrição genética que depois tanto tem de pop pastoral, folk de trilhos bizarros, bom humor e um gosto por ferramentas lo-fi, chegando mesmo no delicioso Initiation a ensaiar aquilo que poderia ser uma visão pop eletrónica pechisbeque (mas do bom) de uma canção dos T-Rex… E atenção que, para mim, isto é um elogio!
Há entre as canções um sentido de abertura a uma certa sumptuosidade nos arranjos que, mesmo em clima de poucos recursos, acaba a sugerir abordagens pop num plano gourmet na linha do que Dan Bejar gosta de fazer através do projeto Destroyer, mas aqui em território mais luminoso. Surreal Number é daqueles raros discos capazes de nos levar a parar o que estivermos a fazer para saborear o gosto da descoberta de algo que concilia o familiar das referências com o caráter único da personalidade como as junta e faz coisa sua. E vindo mapa dos terrenos indie, que andam coisa de dieta desde há já algum tempo a esta parte, esta é das melhores surpresas que nos chegaram nos últimos meses. Coisa para ouvir, sorrir e saborear.
“Surreal Number”, dos Swarming Branch, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição pela Ada. ★★★★★
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