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Um fogo difícil de apagar

Texto: NUNO CARVALHO

Objeto de uma reavaliação com o passar dos anos, “Twin Peaks – Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer” está longe de ser a desgraça que muitos “profetas” da crítica um dia anunciaram.

Com o correr dos anos, Twin Peaks – Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer foi objeto de uma reavaliação (uma espécie de revisão em alta), mas aquando da sua antestreia no Festival de Cannes, em maio de 1992, foi muito mal recebido. David Lynch foi vaiado na conferência de imprensa, e, apesar de ter encarado os jornalistas com uma atitude corajosa, sentiu-se indisposto, situação que aliás já pressentira na noite anterior.

Quando o filme estreou nas salas, grande parte da crítica também não o poupou, com algumas reações de rara violência, e até mesmo muitos fãs acérrimos da série ficaram desapontados. Uns acharam que o filme matava o mistério da morte de Laura Palmer (embora este já tivesse sido desvendado na segunda temporada da ficção televisiva), outros, ainda sob o efeito emocional da história e da multiplicidade de personagens da pequena cidade entre montanhas, dado que a série fora cancelada no verão de 1991, sentiram a falta de algumas figuras a que se haviam habituado, e outros ainda clamaram que esta prequela de Twin Peaks era pouco inspirada. Hoje é visto com outra cautela e de forma menos agressivamente apaixonada, sendo até considerado por alguma crítica de referência como um filme injustiçado que merece ser reavaliado.

Como prequela da série, Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer (Twin Peaks – Fire Walk with Me no original) propõe contar o que sucedeu uma semana antes da morte da personagem de Sheryl Lee, que aqui, ao contrário do que sucedia em Twin Peaks, na qual era uma “presença ausente”, ocupa hora e meia de filme, depois de um prólogo de meia hora em que dois agentes do FBI que nunca tínhamos visto antes (interpretados por Chris Isaak e Kiefer Sutherland) investigam o caso da morte de uma outra rapariga que acaba por estar relacionado com o de Laura Palmer. Como em Laura (1944), de Otto Preminger, aqui a figura fantasmagórica e cristalizada num retrato reaparece com vida, e percebemos com toda a clareza (o que não é muito habitual num filme de David Lynch) o drama da adolescente com uma vida dupla e traumatizada por um pai que mantém com ela uma relação incestuosa. Apesar de não ser uma obra-prima, Twin Peaks – Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer está longe de ser a desgraça que muitos “profetas” da crítica um dia anunciaram.

“Twin Peaks – Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer”, de David Lynch, com Sheryl Lee, Ray Wise, Grace Zabriskie, Kyle MacLachlan, Mädchen Amick, Moira Kelly, James Marshall, David Bowie, está em exibição numa distribuição pela Midas Filmes

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