A vida é (mesmo) longa
Texto: GONÇALO COTA
É na voz quase assombrosa, nostálgica em si mesma de Scott Matthew – figura não particularmente carismática, mas temperada por uma doçura e placidez desarmantes – que se detêm a toda a curiosidade e especificidade. Mas é através da muralha produzida por Rodrigo Leão que se constrói o requinte orquestral do disco lançado no final do ano passado.
A dupla australiano-portuguesa, acompanhada de cinco músicos que criaram robustez interpretativa, tenta inverter as lógicas do microclima frio de Sintra e aquecer a sala, fazendo-se escutar na beleza cinematográfica de canções como That’s Life, Life is Long ou Terrible Dawn – primeira colaboração entre os dois e extraído da Montanha Mágica de Rodrigo Leão.
Se é dada a primazia às músicas de Life is Long no alinhamento, o interesse em ser antológico ao mesmo tempo faz com que se perca imenso impulso (e até interesse). Isto é, quando se escutaram temas mais funk de Rodrigo Leão, de tão festivos e barrocos, não promovem qualquer tipo de equilíbrio nem coesão com a sensibilidade melancolia e minimalista do álbum.
Scott Matthew é chamado a recuperar o concerto: com a guitarra que toca o acompanhada, mostra-nos reinterpretações do imaginário musical da própria narrativa pessoal – e que culminou num disco lançado há quatro anos, Unlearnd – Smile de Charlie Chaplin e I Wanna Dance With Somebody de Whitney Houston (com uma letra um pouco alterada, advogando uma certa queerness). Abandoned, com videoclip lançado no dia do concerto, fechou a noite com um momento que se traduz uma amizade e cumplicidade notórias. A vida é mesmo longa, dizem-nos. Esperemos que nos dêem tanto e tão bom como o que se ouviu ali.
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