“MPL Sound”: um disco para evocar memórias pop e funk dos oitentas
Texto: NUNO GALOPIM
A edição simultânea de três discos distintos sob uma capa comum fez de Lotusflow3r/MPL Sound o lançamento mais ambicioso de Prince desde a etapa final dos anos 90, quando discos como o triplo álbum Emancipation (1996) e o quádruplo The Crystal Ball (1998) deixaram claro que nem sempre era impossível (ler inviável) acompanhar discograficamente o invulgar ritmo de trabalho em estúdio de Prince. O triplo CD então lançado não era contudo um disco único (tal como sucedera com The Crystal Ball). E juntava a um disco que nem era seu – Elixer, da sua mais recente protegida Bria Valente – dois novos álbuns através dos quais propunha novas expressões de dois dos terrenos mais centrais à sua obra. E se a Lotusflow3r cabia o papel de ser terreno de investigações pop/rock com a guitarra como elemento protagonista, em MPL Sound encontrávamos o álbum mais próximo da matriz funk que definira a obra essencial de Prince nos oitentas, o que não quer contudo dizer que o conjunto de canções esteja ao nível daquilo que então ia revelando nos seus discos.
Se bem que sob novas visões possíveis no modo de encarar o seu próprio registo vocal, recorrendo mesmo a novas ferramentas de manipulação, MPL Sound é um disco que convoca heranças e memórias. O disco parece pensado para retomar os ambientes e modelos que em tempos tinham gerado os maiores entusiasmos que a obra de Prince colhera na década de 80, parecendo haver aqui clara vontade em encontrar um herdeiro direto para os tempos de Parade, Sign ‘O’ The Times ou Lovessexy. Não faltam por isso exemplos de diálogo entre o formato da canção pop e arquiteturas rítmicas funk, uma presença evidente de teclados de travo vintage e não faltam sequer as baladas de alma r&b. Nem momentos de festim ao jeito dos tempos com os Revolution, como se escuta em No More Candy 4 U, que fecha o alinhamento.
Sem surpresa foi do alinhamento de MPL Sound que surgiram os singles extraídos deste lançamento triplo, tendo a aposta recaído sobre Better With Time (balada que lembra as formas de The Arms of Orion), Dance 4 Me e U’re Gonna C Me (que tinha já surgido, numa outra versão, no disco ao vivo One Nite Alone)… Curiosamente ficou de fora desta seleção Chocolate Box, uma das mais pungentes composições de Prince nesta etapa, criada num plano de diálogo entre a pop e o funk e, de todo o alinhamento, a quem mais bem expressa as pontes entre as memórias aqui convocadas e o presente. Um outro exemplo evidente destas pontes entre o passado e o momento em que o álbum surgiu ouve-se em Ol’Skool Company que parte de uma estrutura simples e repetitiva para recuperar ecos do minimalismo de algumas canções que tinham feito história na segunda metade dos oitentas, de diferente juntando uma abordagem vocal que assimila a presença do rap.
Sem incluir episódios como os que pontualmente sobressaíram dos alinhamentos de Musicology ou 3121, MPL Sound foi mesmo assim o álbum mais acessível e potencialmente sedutor que Prince editou em muitos anos. Um complemento às visões desafiantes de Lotusflow3er, portanto.
PS. Sim, a capa é horrenda! Na verdade durante anos a fio os discos de Prince deixaram andar as imagens uns valentes furos abaixo da música…
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