Uma ilusória e traiçoeira glória
Texto: NUNO CARVALHO
O terceiro filme da dupla búlgara Kristina Grozeva e Petar Valchanov conta a história de um funcionário da manutenção dos caminhos de ferro que, ao encontrar uma avultada quantia de dinheiro espalhada pela linha férrea que decide prontamente e sem hesitações entregar à polícia, se vê usado pela responsável do departamento de relações-públicas do Ministério dos Transportes como um exemplo de um cidadão honesto e incorruptível com o intuito de desviar as atenções de uma situação política marcada pela corrupção.
Contudo, aquilo que parecia um momento de glória para o protagonista transforma-se num calvário quando, durante uma homenagem na presença do ministro em que lhe é oferecido um relógio novo, a RP lhe perde o seu relógio antigo, uma relíquia familiar com um inestimável valor afetivo. Glória é um conto moral que toma a forma de parábola (em tom de quase farsa) para falar de temas complexos como o pesadelo da burocracia, a corrupção generalizada ou a forma como as pessoas mais frágeis, bondosas e honestas são ridicularizadas por um sistema cínico, hipócrita e corrompido que tende a vê-las como idiotas.
“Glória”, de Kristina Grozeva e Petar Valchanov, com Stefan Denolyubov, Margita Gosheva e Ana Bratoeva, está em exibição numa distribuição pela Leopardo Filmes
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