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O bailado das águas, segundo Philip Glass

Texto: NUNO GALOPIM

Kristan Javi dirige uma nova orquestração do bailado “Águas da Amazônia”, de Philip Glass, que chega a CD numa altura em que o catálogo da editora do compositor começa a estar disponível em diversas plataformas digitais.

Uma entre as diversas expressões de relacionamento com o universo brasileiro na música de Philip Glass – e que passam também por arranjos numa canção de Marisa Monte ou a cantata Itaipú, de 1989 – o bailado Águas da Amazônia (sim, com o acento circunflexo) foi criado a partir de um convite lançado nos anos 90 ao compositor pelo Grupo Corpo, de Belo Horizonte. Inspirado pela vastidão e diversidade do Amazonas, Philip Glass compôs então uma peça orquestral em várias partes (podemos chamar-lhe andamentos, mas não têm a dimensão nem as formas habituais em concertos ou sinfonias), nas quais conciliou ecos da escrita orquestral que então desenvolvia com algumas relações instrumentais mais concretas com o espaço retratado e também discretos sinais de flirt com o jazz.

Foi Paul Simon quem apresentou o grupo Ukati a Philip Glass, a eles cabendo então a gravação original da peça, que conheceu lançamento em disco em 1999 através da Point Music, a etiqueta que o compositor geria antes de criar a sua própria Orange Mountain Music.

Sem a dimensão de diálogo com os terrenos da world music de Orion ou de colaborações com Ravi Shankar (Passages, 1990) ou Foday Musa Suso (Music From The Screens, 1992), Aguas da Amazônia reflete, sobretudo através do trabalho de sopros locais e percussões uma certa presença geográfica, cabendo depois ao trabalho orquestral a definição de uma plataforma lírica que transborda as referências culturais mais concretas, rumando a territórios que não estão muito longe do que em tempos se definia como new age…

Uma nova abordagem a esta mesma obra de música para bailado surge agora pela MDR Leipzig Radio Orchestra, sob direção de Kristan Javi, numa leitura com um novo arranjo de Charles Coleman, que vinca mais a presença do trabalho da orquestra, sem, contudo, esbater as presenças que fazem aqui sugerir o correr das águas (e que cabem às presenças instrumentais de construção local). O alinhamento, tal como no disco dos Uakti de 1999, inclui uma abordagem com arranjo orquestral a Metamorphosis I.

“Aguas da Amazônia”, de Philip Glass, em arranjo de Charles Coleman, pela MDR Leipzig Radio Orchestra, sob direção de Kristan Javi, está disponível em CD e nas plataformas digitais numa edição da Orange Mountain Music.

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