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Três livros para (re)descobrir Dino Buzzati

Texto: NUNO GALOPIM

Em tempo de partida para férias, uma boa sugestão de leitura pode passar pelos livros do escritor e jornalista italiano. Ficam aqui três possíveis títulos para o descobrir. Ou reencontrar.

Um dia o italiano Dino Buzzati (1906-1972) explicou que a fantasia deveria estar o mais perto possível do jornalismo… E com um sentido de precisão nas ideias e contenção nas palavras deixou assim bem claro o que foi a essência toda uma vida essencialmente dedicada à escrita. Frequentemente apontado como um dos pais da literatura moderna, Buzzati foi jornalista. Trabalhou no Corriere della Sera, onde começou como revisor, mais tarde assinando textos como repórter, depois editorialista, editor e crítico. A sua experiência jornalística garante um rosto enxuto e realista a histórias onde moram frequentemente o fantástico, situações bizarras e o gosto sobre a reflexão da relação do homem com a máquina.

A Cavalo de Ferro publicou durante alguns anos uma sucessão de títulos centrais da sua obra. E em tempo de férias, com espaço na bagagem para um ou outro livro, porque não levar um de Dino Buzzati? Ficam aqui três possíveis escolhas entre os títulos lançados entre nós.

A Derrocada da Baliverna, é colecção de contos, com tradução de Margarida Periquito, que entre nós chegou aos escaparates em 2008. E esta pode ser a porta ideal para a descoberta da escrita de Buzzati, propondo uma série de curtíssimos contos (apenas O Cão Que Viu Deus é relativamente mais extenso que a média dos demais aqui reunidos) nos quais se contam histórias nas quais uma imaginação nas esferas do fantástico se cruza com uma escrita sempre direta e clara. Como se lê no texto que se publica na contracapa do livro, estamos “num mundo sempre assente num frágil equilíbrio entre a dimensão mágica e o pragmatismo do Homem contemporâneo (a temática favorita do autor)”. E, acrescenta ainda o texto, “as histórias que o compõem evidenciam com particular intensidade a complexa rede de misteriosos acontecimentos e forças invisíveis que empurram o Homem para o seu destino”. Da história de um homem que decide escalar uma parede e acaba por provocar a derrocada do edifício a uma outra, onde vemos que é o Diabo quem incentiva secretamente certas grandes descobertas científicas, da odisseia de uma cidade fechada onde uma máquina garantia vida mais longa aos seus habitantes à crise de ansiedade de uma senhora, em viagem, que de repente duvida se chegou a levar a filha para passar uns dias com a tia ou a deixou, sozinha e fechada em casa, os contos em A Derrocada da Baliverna são um bom exemplo da escrita única de Dino Buzzati.

Publicado em 1940, O Deserto dos Tártaros é talvez o mais célebre dos romances do autor. Esta é a história de um soldado. Mais precisamente de um oficial, que pouco depois de formado se vê colocado na fortaleza Bastiani, nos limites de um deserto que em tempos fora domínio tártaro. Esta é a história da vida de um homem que (como os demais estacionados na fortaleza) esperam uma eventual invasão vinda daquele deserto e a consequente guerra que não apenas justificaria a existência daquele forte, mas também das suas vidas. Os pequenos nadas, as rotinas da vida de uma pequena população que ocupa o tempo enquanto a invasão não chega, são os focos de acção de uma história que vive permanentemente à espera de uma qualquer coisa que nunca mais chega, o tempo acabando por lançar várias questões (e o confronto estabelecendo-se depois com outras vidas que, na cidade, seguiram outros caminhos)… O livro foi ponto de partida para uma adaptação ao cinema, em 1976, pelo realizador italiano Valerio Zurlini.

Datado de 1949, alguns anos depois de O Deserto dos Tártaros, Pânico no Scala foi então o segundo volume de contos de Dino Buzzati. E aquele que dá título ao livro é aqui a peça central, relatando os acontecimentos numa noite de estreia no famoso teatro de ópera de Milão. Estão ali concentradas a alta burgesia e as demais elites da cidade… Isto quando de repente corre a notícia de que, nas ruas estalou uma revolução. O medo é evidente na recepção que se segue ao espectáculo. E face ao que parece ser um perigo maior é tomada uma decisão, acolhida por unanimidade: fechar as portas do teatro, mantendo todos à espera lá dentro… A noite evolui, as horas passam… E a tensão vai aumentando naquele espaço fechado e sem notícias… Pânico no Scala é mais um exemplo da mestria de Buzzati não apenas na condução de uma narrativa mas no colocar em cena de medos capazes de transfigurar o real, apenas pelo pensamento.

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