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Três boas memórias do NOS Alive 2017

Texto: NUNO GALOPIM

Se dos concertos nos palcos mais visitados já se falou, ficam aqui três notas pessoais sobre episódios desta edição do festival que registei com interesse maior. Todos eles com músicos portugueses.

António Bastos no palco NOS Clubbing

Foram muitos, muitos concertos, entre eles não faltando daqueles que ganharam em nós um lugar nas memórias inesquecíveis… E nessa divisão estará a atuação dos Depeche Mode feita com um alinhamento arriscado que apostou no presente antes de abrir o desfile das memórias que depois se sucederam até que, ao som de Personal Jesus, a festa terminou… Songs of Faith and Devotion (1993) foi o álbum mais revisitado juntando quatro temas ao alinhamento, seguindo-se, com três, Violator, somando tantos quantos os que foram buscar ao mais recente Spirit… As escolhas refletiram assim os jogos de afinidade entre esses dois álbuns e o que editaram este ano. Confesso que o que gostei mesmo foi de ali escutar um outro trio de temas, que correspondeu às mais remotas das memórias que levaram ao palco com Everything Counts (1983), Stripped (1986) e Never Let Me Down Again (1987). E Home, do álbum Ultra (1997) foi outra bela adição ao lote de canções que não foi contudo tão extenso como o que estão a apresentar em outros concertos seus, aos quais levam mais temas do álbum deste ano e também uma versão de Heroes de David Bowie. Boa performance, som irrepreensível e belos novos arranjos (nos temas mais antigos) serviram um dos melhores alinhamentos entre os vários concertos que deles vi. Mas tanto já se falou do concerto de Depeche Mode, assim como dos demais que tiveram passaram pelo palco principal que, desta edição 2017 do NOS Alive prefiro antes deixar como nota de referência três outros momentos. Dois deles vividos no Palco NOS Clubbing, o terceiro sendo na verdade toda a magnífica experiência que foi viver três dias de descobertas e reencontros no Palco Coreto.

António Bastos
É verdade que soma já uns quatro anos de experiências a solo depois do fim da aventura Johnwaynes, dividindo-se entre criação de discos, a gestação de uma editora e a definição de um programa performativo no qual procura o diálogo com as comunidades. Mas foi a sua passagem pelo palco NOS Clubbing, em tempo de celebração das brisas estivais ao som de You Make Me Feel, que fez para muitos (eu inclusive) com que aquele momento de palco fosse uma revelação maior. Se os discos (até aqui em formato digital) eram bons cartões de visita, a atuação ao vivo confirmou o poder sedutor de uma música que tanto sabe encontrar um lugar na canção como em devaneios que crescem com mais tempo e outras estruturas piscando olhares a terrenos da música de dança (sem apagar a house do mapa) e plenos de referências que vão de Twin Peaks a Piazzolla… E sempre com ingredientes variados e temperos inesperados… A pop eletrónica que se faz por cá estava a precisar de algo assim.


Mr. Herbert Quain em atuação no palco NOS Clubbing

Mr. Hebert Quain
O projeto eletrónico de Manuel Bogalheiro é um one-man show (devidamente acompanhado por um belo trabalho visual) que, no fim de tarde de sábado soube conquistar e contagiar os que foram caminhando perto do palco NOS Clubbing sem mostrar grande interesse pelo som mais convencional e para consumo teenager dos Koladine que se ouvia então, mais adiante, no coração do recinto. Sob o nome de uma personagem inspirada por um conto de Borges, o músico convocou uma narrativa feita de uma música que parte de pequenos pedaços de ideias sonoras que, como num trabalho de filigranas, se organizam em corpos que vemos (e sobretudo ouvimos) a nascer ali mesmo, à nossa frente. Elegância e fulgor raramente dançam tão bem em conjunto, mas a verdade é que a visão de uma música eletrónica que Mr. Herbert Quain nos apresenta é tão capaz de nos sugerir a contemplação que associamos a uma ideia de galeria de arte ao prazer do movimento pela dança… Quem gosta da música de um Nicolas Jaar ou Pantha du Prince tem aqui um nome a seguir com atenção. Foi um dos melhores momentos desta edição do NOS Alive.

Palco Coreto
Três dias, três (boas) ideias. No primeiro caminhando (a dançar) entre os terrenos da “global club music”, no segundo escutando vozes femininas de uma nova geração de criadoras de canções, no terceiro olhando a eles, às suas guitarras e composições. Serviu o lote (bem arrumado) de artistas para ora reencontrar nomes que não carecem já de apresentação como Riot, Benjamim ou Filho da Mãe, mas ao mesmo tempo para revelar (a quem não os conhecia bem) nomes emergentes que justificam que habitem no mapa das nossas atenções. Kking Kong, Calcutá, Lince, Duquesa… Vale a pena estar atentos… E que bom que será se, a cada ano, este coreto nos souber colocar perante um panorama deste calibre.

É claro que, além destes três destaques e dos Depeche Mode, não faltaram mais (bons) motivos para contar histórias de grandes concertos nesta edição do NOS Alive 2017. Dos portugueses LOT (que lançaram este ano o seu primeiro álbum) às atuações dos Spoon ou The Kills não faltaram razões para dali ter trazido boas memórias.

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