“The Art Official Age”: sinais de (bom) reencontro
Texto: NUNO GALOPIM
Poucos imaginavam que, após tão morosa e conflituosa separação, Prince voltasse a editar discos pela Warner. Mas aconteceu e, fruto de uma renegociação na qual o músico adquiriu masters de gravações e autorizou a edição de reedições em formaro DeLuxe, o novo entendimento materializou-se igualmente na forma da edição, em simultâneo, de dois novos álbuns de estúdio, que chegaram ao mercado a 26 de setembro de 2014. Um deles foi gravado em conjunto com a nova banda que agora o acompanhava em palco. O outro era um novo álbum em nome próprio. E, apesar dos bons momentos surgidos em alguns discos lançados nos últimos anos, este revelou ser o seu melhor disco em vinte anos.
Com um conjunto de canções que refletiam um momento de maior inspiração encontrada e, também, uma mais refletida opção estética na moldagem dos arranjos e produção, o disco ao qual chamou The Art Official Age recuperava, por um lado, o gosto em explorar pontes e diálogos entre a pop e os universos do r&b (apesar do claro predomínio de elementos funk e soul) que tinham caracterizado muitas das criações de Prince nos anos 80, sendo frequentes as expressões electro funk ao longo do alinhamento.
O som do disco traduz porém uma perspetiva de modernidade que não explora os caminhos mais nostálgicos de um MPL Sound. E na verdade, além desses ecos dos oitentas, há entre várias canções marcas de afinidade com o registo proposto em Diamonds and Pearls, quando pelo trabalho vocal de Prince os flirts com o hip hop começaram a surgir com alguma regularidade, embora sempre sob evidentes marcas de personalidade. Funknroll, que cruza todos estes universos e referências, é, por isso, uma das peças centrais de um alinhamento que traduz decididamente o mais surpreendente (até então) da vida discográfica de Prince no século XXI. Por seu lado o apelo pop de Art Official Cage traduzia o momento mais festivo que Prince levava a disco em muitos anos.
Em The Art Official Age Prince usa novamente a voz como instrumento para a representação de diversas personagens nas canções. E, tal como nos dias de Sign ‘O’ The Times chama ao disco, além do seu registo mais comum, a voz aguda de Camille, o alter-ego que definiu na segunda metade dos oitentas. E, tal como em The Gold Experience, às canções é adicionada uma voz feminina que assegura momentos de narração, ajudando a vincar o caráter concetual e até mesmo narrativo que cruza o disco.
Sem traduzir um clima de aclamação generalizado, que chegaria sobretudo com o segundo volume do díptico HITnRUN (em 2015), The Art Official Age foi mesmo assim reconhecido como um momento de viragem e de reencontro na obra de Prince. Gerou três singles apenas com expressão digital, recaindo as escolhas sobre a balada Breakfast Can Wait e ainda os temas Clouds e Breakdown, nenhum deles tendo figurado em tabelas de vendas.
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