Vamos lá dançar ao som do futuro? Era assim há 40 anos…
Texto: NUNO GALOPIM
Nos últimos anos reencontrámo-lo, de viço reencontrado, num dos temas centrais do mais recente álbum dos Daft Punk (no qual nos convidava a uma viagem autobiográfica), lançou uma nova antologia dedicada à sua música e até mesmo um álbum de inéditos recentemente gravados, deixando bem claro que a barreira dos 70 (e ele tem neste momento 77 anos), afinal, não existe… Convém, de resto, e antes de mergulharmos no tempo, lembrar que antes até destas aventuras em suportes “físicos”, Giorgio Moroder tinha descoberto através do Sound Cloud uma nova janela de comunicação para com novos públicos, definindo pelas ferramentas de comunicação do século XXI o seu modo de dar nova vida à sua música. Nada de estranho, afinal, junto de quem, nos setentas e oitentas, ajudou a pensar temperos “futuristas” para a pop e, sobretudo, a música de dança. Contudo, e apesar da excelência da colaboração com os Daft Punk, a verdade é que moram nesses tempos as suas mais importantes contribuições, sobretudo, para a história do disco sound e, em particular, de uma das suas descendências diretas: o space disco.
E é aí que entra em cena o álbum From Here To Eternity que, editado há precisamente 40 anos (em finais de julho de 2017) ajudou a dar visibilidade e ideias a um movimento que começava, sobretudo na Europa, a sugerir possibilidades novas para as pistas de dança sob herança direta tanto do disco sound que emergira em noites americanas, a refletir o interesse em explorar os novos sintetizadores, sequenciadores e processadores de voz e, claro, o frenesi de interesses pelo espaço interplanetário que ganhou vida nesse ano em que filmes como Star Wars e Encontros Imediatos de Terceiro Grau assinalaram um episódio fulcral na história do relacionamento da ficção científica com o grande ecrã.
A discografia de Moroder é vasta e naturalmente transcende os espaços do disco sound… Mas foi nesse domínio que se fez referência e visão, não apenas nas célebres e fundamentais parcerias com Donna Summer que ajudaram a definir e projetar o género, mas também num conjunto de edições nos quais levou mais adiante a exploração das potencialidades das eletrónicas ao serviço de ideias neste mesmo terreno.
Sem relegar para um plano menor a importância do pioneiro Love To Love You Baby de Donna Summer, é contudo entre I Feel Love (uma vez mais com a mesma cantora) e o álbum From Here To Eternity (o seu grande álbum em nome próprio) que define a identidade central de uma visão como músico e criador, valendo-lhe a visibilidade conquistada o interesse de muitos outros em trabalhar consigo nos anos seguintes. E entre essas muitas parcerias encontramos nomes como os Japan, Sparks, Blondie, David Bowie, Freddie Mercury, Phil Oakey, Limahl ou os Sigue Sigue Sputnik.
De Lindstrom e Kelley Polar aos Daft Punk ou Pet Shop Boys não faltam herdeiros diretos destas visões disco com travo sci-fi que Giorgio Moroder criou em 1977. Pelo que em From Here To Eternity podemos encontrar uma verdadeira “cartilha maternal” para muitas visões pop feitas com eletrónicas e alma dançante que nasceram depois, geração atrás de geração.
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