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Desafios para gente crescida no limiar do século XXI

Texto: NUNO GALOPIM

A primeira das três novas edições retrospetivas dos Pet Shop Boys que amanhã chegam ao mercado recorda um álbum nascido ao mesmo tempo do que um musical de palco, num tempo em que o som da banda se afastou dos apetites do universo mainstream.

O ano de 1999 foi um tempo de transição para os Pet Shop Boys. Mesmo sem uma tão expressiva presença nos topos das tabelas de vendas como nos oitentas, os noventas mostraram-nos ainda como uma força pop com apelo mainstream… O mundo pop, contudo, estava a mudar. Sobretudo no plano da maior concentração de atenções, sobretudo depois do impacte das boy e girl bands de então… Já nos quarentas (anos de idade), os dois músicos olharam para o aproximar da viragem para o século XXI como um tempo de novas experiências e desafios. Sem por isso ter de afastar do seu mapa toda a genética da sua identidade…

À edição de Bilingual seguiu-se uma pausa mais extensa do que o habitual, a meio tendo havido inclusivamente um período de férias, durante as quais travaram conhecimento com Brian Eno que, por pouco, não produziu o ser disco seguinte. Um diferendo surgido quando Eno propôs que tocassem as partes sequenciadas ao vivo abriu uma frente de desentendimento que, eventualmente, conduziu à não concretização da ideia. Ao mesmo tempo estavam já a trabalhar com Jonathan Harvey na criação de um primeiro musical, que estrearia com o título Closer To Heaven mas que, enquanto estava em fase de “work in progress” era por eles tratado com o título de trabalho Nightlife… Precisamente aquele que escolheriam para o seu novo álbum ao qual, sem Brian Eno, resolveram então chamar três produtores. Um deles (Craig Armstrong) para garantir a dimensão orquestral desejada. Outros dois para apontar azimutes a tendências presentes da música de dança (Rollo e David Morales). O “elenco” do disco incluiu ainda Kylie Minogue como convidada vocal em In Denial.

Editado em 1999 Nightlife é um disco companheiro desse musical. Inclui canções usadas no musical, outras que foram para ele criadas mas nele não usadas ou ainda outras que nasceram nessa mesma altura sem o palco do west end em vista… É um disco que assinala (como sempre) contrastes com o passado recente da banda. E face à experiência pop latina de Bilingual apresentaram antes um álbum que ora vincava mais um desejo em trabalhar eletrónicas, ora reativava um gosto (já conhecido) pelos diálogos com as orquestras e a própria música clássica. Tanto que em Happiness Is An Option apresentam uma clara abordagem a uma peça de Rachmaninov.

Também na imagem há aqui um contaste com o tom mais “realista” das fotos “tipo férias” de Bilingual. Os quimonos usados no teledisco de I Don’t Know What You Want But I Can’t Give It Any More ou a foto tirada no metropolitano de Nova Iorque usada depois na capa do álbum vincam uma ideia desejada de exploração pop da noção de artifício. Entre as boas histórias que lemos no booklet da nova edição está a da pouca vontade da editora em lançar New York City Boy como primeiro single porque, como dizem, era… demasiado camp… Curiosamente este seria, dos três singles editados (o terceiro seria You Only Tell Me You Love Me When You’re Drunk) o que melhores resultados globais obteve…

Na nova edição com dois CD de extras que surge em Nightlife/Further Listening 1996-2000 (um dos três títulos da obra dos Pet Shop Boys a conhecer este tratamento retrospetivo) somos conduzidos a memórias que nos permitem conhecer o ambiente de trabalho no qual tanto o musical como o álbum Nightlife surgiram, juntando a lados B e versões máxi algumas maquetes de trabalho em ambos os projetos, assim como uma (deliciosa) colaboração com Elton John em Believe/Song For Guy. Há aqui canções que acabaram de fora tanto do musical como do álbum, assim como abordagens, pela voz de Neil Tennant, a temas que discograficamente já conhecíamos pelas vozes do elenco de Closer To Heaven. Casting a Shadow é uma pérola disco de travo eletrónico que reforça uma das linhagens centrais nas referências dos Pet Shop Boys e que antecipa, de certa forma, um tipo de abordagem que mais tarde levaram mais a fundo no álbum Electric, em 2013. Como “mimo” serve-se ainda uma versão em francês de New York City Boy, devidamente rebatizada Paris City Boy. Et voilà…

“Nightlife”/”Essential Listening 1996-2000” dos Pet Shop Boys é uma edição em 3CD pela Parlophone/Warner

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