“Plectrumelectrum”: um exercício de estilo em terreno rock’n’roll
Texto: NUNO GALOPIM
Além da multidão de nomes pela qual se apresentou na segunda metade dos anos 90 (e que na verdade gerou mais confusão e dispersão de atenções do que uma real contribuição a uma história artística, a discografia de Prince inclui inúmeras colaborações e parcerias. Com a New Power Generation chegou mesmo a gravar três álbuns nos quais diluiu a sua presença, apresentando-os sobre a designação da banda apesar de, em 1998, ser ele mesmo quem surge na capa de Newpower Soul…
Com as 3rdeyegirl, que o acompanharam em palco depois de 2014, registou também um álbum que editou contudo como uma parceria assumida, apesentando-o como um disco produzido, composto e interpretado sob o nome comum Prince & 3rdeyegirl… E com a peculiaridade de Plectrumelectrum (assim se chama o álbum) ter sido editado a 16 de setembro de 2014, ou seja, o mesmo dia em que ele mesmo, a solo, lançava The Art Official Age… E o que mais tinham estes doistru discos em comum? Assinalavam um reencontro editorial com a Warner, a editora da qual Prince se afastara sob tão conturbado processo nos anos 90.
Plectrumelectrum é um disco diferente não apenas do outro álbum que Prince editava no mesmo dia como representa também uma proposta esteticamente bem distinta de todas as suas criações dos últimos anos: é um álbum de rock!
Juntamente com Hannah Welton (bateria e voz), Donna Grantis (guitarra e voz) e Ida Kristine Nielsen (baixo e voz), Prince apresenta aqui um disco que, se por um lado está longe de ser dos mais imaginativos da sua carreira, é contudo um dos mais acessíveis e diretos da sua obra no século XXI. Apesar de uma ou outra breve jam, o alinhamento vive de canções bem estruturadas, de formas claras e traçadas numa linguagem capaz de reativar relacionamentos com aqueles que, sobretudo nos oitentas, chegaram à música de Prince não pelo lado do funk nem da soul, mas pela sua costela rock’n’roll. E na verdade não há na discografia de Prince um single tão ostensivamente centrado numa lógica de abordagem “clássica” às linguagens do rock como PretzelBodyLogic, o segundo extraído do alinhamento deste álbum.
Apesar de claramente focado nesse sentido, Plectrumelectrum não deixa contudo de acolher alguns sinais de contaminação de outras genéticas naturais na música de Prince. Stopthistrain cumpre a representação clássica do espaço da balada r&b… E Boytrouble junta elementos funk e até mesmo um episódio de rap ao alinhamento.
Mais um exercício de estilo do que uma grande ideia criativa, Plectrumelectrum cativou atenções pelo facto de ter surgido num momento de reencontro de Prince com a Warner. Mas face a The Art Official Age, editado no mesmo dia, mostrava-se como o elo mais fraco desse momento. O seu impacte mais discreto no mercado foi, de resto, expressão desta realidade.
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