As sinfonias de câmara (e bom humor) de John Adams
Texto: NUNO GALOPIM
Um álbum e um podcast num mesmo disco? Esta é a proposta dos Alarm Will Sound que dedicam um novo lançamento às duas sinfonias de câmara de John Adams. A Chamber Symphony (de 1992) e a Son of Chamber Symphony (de 2007) não são naturalmente peças ausentes de outros repertórios gravados. Mas neste seu novo lançamento os Alarm Will Sound não só nos dão novas leituras sobre estas obras como juntam, para cada uma, um momento de conversa que, incluindo a presença do próprio compositor, sugere a ideia de uma emissão de rádio na qual, num registo de cativante informalidade, elementos do grupo, o maestro Alan Pierson e o bem humorado John Adams conversam sobre não apenas as obras, o que as influenciou, o que sugerem, incluindo uma reflexão sobre a própria génese do formato e até algumas confissões… desconcertantes… Como, por exemplo, quando o próprio Adams evoca semelhanças que sentiu entre obras de Schonberg que escutou quando trabalhou na ópera The Death of Klinghoffer e música que descobriu em desenhos animados da dupla Ren & Stimpy ou quando confessa que “o conceito da sinfonia de câmara é errado”, acrescentando que são mesmo “propostas impossíveis”… E porquê? Pelos jogos de dinâmicas sonoras dos instrumentos e as diferenças que há entre os equilíbrios numa orquestra sinfónica q numa substancialemente mais pequena… Questões de “física” como Adams sublinha. Por outro lado, sendo os Alarm Will Sound um grupo preparado para este tipo de desafios acabamos depois por reconhecer que, apesar da tal proposta impossível, tanto pela composição como pela interpretação, a coisa aqui acabou com final feliz.
No segundo podcast, que antecede a revelação de que a Chamber Symphony representou um dos motivos pelos quais o coletivo Alarm Will Sound nasceu, somos confrontados com uma outra ideia. A de como, através de duas obras de um mesmo compositor, de define uma afirmação de identidade. Por um lado pelo modo como a Chamber Symphony ajuda a definir a ideia do grupo de músicos. E, depois, porque a Son of Chamber Symphony foi composta para ser estreada pelos Alarm Will Sound… Pelo caminho conta-se a história de como se evitou chamar a esta obra Chamber Symphony No. 2. E de como John Adam apareceu para assistir (e dirigir inclusivamente) o primeiro ensaio desta obra, confessando os músicos do grupo que um primeiro ensaio corre sempre mal, é sempre um mundo de stress e, como se não bastasse, algumas partituras tinham acabado de chegar… Nada como ouvir a descrição (com a dose de humor do costume)… Assim como perceber como uma obra que é composta para um grupo não chega à sala de concertos tal e qual a partitura a mostrava inicialmente revelando-se, antes, um organismo vivo que pode evoluir durante os ensaios…
“Splitting Adams”, dos Alarm Will Sound, está disponível em CD e nas plataformas digitais, numa edição da Cantaloupe
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