António Bastos: “Música é transmissão de emoções e isso não tem a ver com estilos”
Entrevista de NUNO GALOPIM
Militaste em tempo a bordo de uma aventura coletiva. Chamavam-se Johnwaynes… O que aconteceu depois do seu fim?
O meu projeto a solo pós-Johnwaynes arrancou hà quatro anos. Comecei por lançar o Roses Train EP e posteriormente fui lançando singles: Getting Used, um EP de remisturas do tema The Roses Train, Talk To The Song, A Barbie In The House, Fall In Love, Misirlou e por fim o You Make Me Feel. Durante este tempo foi sempre tocando dentro e fora do país em formato DJ set, Live (sozinho) ou concerto (com banda), dependendo das condições que tinha, embora me dê muito mais prazer tocar com banda em concerto, claro.
Ao mesmo tempo que tens um trabalho como criador desenvolveste também um esforço em paralelo como editor…
Fundei também a minha editora YOU records com duas etiquetas diferentes. Uma delas, a YOU PLUG ME, para electrónica, downtempo, lounge, chill out… A outra, a YOU FEEL YOU, para house, com distribuição para todo o mundo.
Mas tem sido ao vivo que tens concentrado muito do teu trabalho… E aí com um relacionamento que aposta num trabalho de ligação à comunidade que não se esgota na ideia de estar em frente a um palco…
Como gosto muito de pessoas de interagir com elas e com todos os estilos de música, e maneiras de ver a música, criei o espectáculo com a comunidade “A Barbie In The House – Antonio Bastos e a Comunidade”. Este espectáculo tem como base a minha música, e acrescentei-lhe a comunidade com arranjos específicos para cada tipo de grupo. É a fusão artística contemporânea (electrónica, dança, tradições locais) com a comunidade artística local (filarmónicas, coros, escolas de música e escolas de dança) e a população em geral (músicos ou não músicos que queiram participar no espetáculo através de um workshop) o que origina um espectáculo único feito pela comunidade e para a comunidade, uma família de sons e movimento tradicional fundido com o eletrónico contemporâneo, onde a música e a dança é celebrada em todo o seu esplendor.
E como reagem as populações a estas propostas?
Este espectáculo está a ser muito bem aceite. Estamos neste momento a marcar datas, inclusive também fora do país. Já o fiz em Ourém, Casino Figueira, CAE – Figueira da Foz. Está também já marcado para 30 se Setembro com a comunidade Aveirense, no Teatro Aveirense, aqui irei ter 200 vozes em palco, cerca de 70 músicos de orquestra filarmónica, bem como escolas de música e dança a participar, sempre adaptando a minha música à comunidade.
O recentemente editado You Make Me Feel soa a single de verão… Que “ingredientes” deve ter um hino de verão?
Um hino de verão eu diria que tem que soar molhado, fresco e divertido, tens de sentir as ondas do mar as ondas vibrantes entre pessoas, o por do sol. A maneira de o fazer musicalmente varia, mas na You Make Me Feel eu coloquei no “gelado” um bocadinho de reggae, um bocadinho de bossa nova, electrónica qb e para lhe dar o sabor uma pitada de world music.
Este single será um possível cartão de visita para um álbum?
Este You Make Me Feel poderá ser um cartão de visita para o verão e para o meu álbum, porque ele irá ter várias sensações e vários ambientes. Na You Make Me Feel experiênciamos uma das sensações. Eu gosto da vida e de a viver com intensidade logo a minha música transmite isso. Tanto estou a curtir um concerto de música clássica como, de seguida, estou num club underground com um techno que me faça viajar. Gosto quase de todos os estilos de música. Acho que só existe música que gostamos ou que não gostamos.
E o que será esse álbum (e quando será editado)?
O meu álbum a sair nos finais de outubro irá ter alguns singles já editados bem como temas novos. Irá ter todas as minhas vivências, passando-as para a linguagem música. Sendo uma porta aberta a novas sensações para quem ouve dei o meu nome pessoal ao projeto.
O tema Fall In Love sugere uma deliciosa viagem a memórias de uma pop europeia continental que, na segunda metade dos oitentas, era um pouco o oposto do que se dava como “alternativo”… Como lidavas com esses discos de então e o que te levou a trazer esses sons a uma canção tua…
Eu na altura adorava o disco. Era puto e o meu pai comprava esses discos para ouvirmos em casa. Este tema, Fall In Love, foi precisamente o querer experimentar a sensação de puto mas dando-lhe um toque atual, com as minhas influências de jazz e eletrónica mais contemporâneas. É um tema que faz a ponte entre o outono da queda da folha e as várias “quedas” que acontecem por amor e no amor próprio.
Por vezes, discretamente, há elementos jazzy a passar pelos teus temas. Tem a ver com um gosto de raiz, com uma formação?…
Eu tive um grupo de jazz durante anos, onde era o baterista e só via jazz. Para mim o que não era jazz não era música. Fiz muitas formações de jazz, em Portugal e fora, era viciado em jazz, comprava os discos todos, etc! Depois fartei-me, e agora gosto de algum jazz, aquele menos frio que te chega à alma. É esse que tento colocar na minha música, sem dúvida.
Há vários momentos em que as músicas do mundo passam pelo que fazes… O que atrai nelas e o que trazem à tua música?
A música do mundo é a musica dos povos das nações, das diferenças entre eles, isso para mim é um mundo, é onde percebes as culturas de onde vem, para onde vai. É aquela coisa que nasceu ali e só soa ali. Isso é genuíno, vem de dentro e eu tenho um pouco isso na minha música. Vou buscar essa genuinidade ao mundo o que torna a minha música mais minha!
Depois de muitas breves experiências (por vezes sem continuidade), a eletrónica e a canção pop parece que se começam a juntar mais vezes na nova música portuguesa… O que gerou esta nova vaga de artistas sem “receio” nem da palavra pop nem da eletrónica?
Acho que no passado a cena funcionava por equipas… E ainda funciona. Senti e sinto isso quando deixei de pertencer à equipa do house! Temos a equipa do house que só faz house, a equipa do pop que só faz pop, a equipa do fado que só faz fado, etc… A malta não se misturava porque foi ensinada assim e nunca se questionou. Senão era criticada e excluída pela própria equipa. Ainda muita gente é assim. Mesmo muita! Acho que a grande maioria. Só que quem ouve música não quer saber disso quer é sentir o que a música transmite e nada mais, mas quem faz as musicas tem esse preconceito da equipa. Fora de Portugal essa fusão já se faz há muito, influenciando agora os novos projetos a fazerem-no também. Existem agora mais corajosos a sair das equipas e a fazer a sua própria música sem regras nem preconceitos. Acho que é a evolução natural da música. E assim é que deve ser. Música é transmissão de emoções, sentimentos, e isso não tem a ver com estilos, tem a ver com música.
Deixe uma Resposta