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No claustro das sensações

Texto: NUNO GALOPIM

Três anos depois de apresentado no claustro da Catedral de Evreux, uma gravação da peça ali apresentada, cruzando as sugestões ambientais de Thomas Köner e as gravações de campo de Jana Winderer propõe-nos uma viagem feita de sensações induzidas pelo som.

Em junho de 2014 os claustros da catedral de Evreux, na Normandia (França), acolheram a apresentação de uma peça conjunta do alemão Thomas Köner e da norueguesa Jana Winderer. Desenhada para aquele lugar, jogava contudo com uma relação com o espaço de um modo distinto das Versailles Sessions de Murcof, outra proposta site specific (e igualmente depois levada a disco), na qual se usava o presente de um lugar para estabelecer pontes entre épocas. O claustro aqui foi sobretudo o terreno para um encontro, congregando num espaço comum, e sob uma arquitetura acústica favorável, o desenho de sons de Thomas Köner e as gravações de campo de Jana Winderer. Quem lá esteve, há três anos, embarcou na viagem… feita de sugestões e ambientes. Agora, numa edição (bem) limitada, a gravação desta peça, com cerca de 45 minutos de duração, chega a disco, no formato físico de CD… Porque, como se vê, a materialização (quando possível) das experiências sonoras não deixou de fazer sentido.

Um claustro é, além das características físicas que concede ao espectador (e à gravação), um espaço com afinidades naturais para com as visões meditativas que transbordam do trabalho de Thomas Köner. No limiar dos silêncios e das formas, a sua obra procura explorar noções de tempo e memória, convidando quem escuta a um jogo que usa a sugestão e a perceção como veículos para que, cada um, ali procure sensações. Ruídos surgem e desvanecem e, quando ganham intensidade, as notas tocadas são longas, diluindo-se nos fundos de onde brotam e aos quais depois acabam por regressar. Por seu lado os sons captados por Jana Winderer acrescentam uma dimensão claramente terrena e viva, desde o estalar do gelo em glaciares distantes, ao canto dos pássaros, do ladrar de um cão aos sinos da catedral, sendo assim lançadas ténues linhas que permitem esboçar uma possível visualização do conjunto (com liberdade suficiente para que cada um entenda imaginar o seu programa de imagens). Apesar da nitidez destes elementos, a sua presença não fecha contudo nunca os estímulos lançados em formas concretas nem procura uma agenda narrativa como a que habita o âmago do histórico Cill Out dos KLF. O claustro fica, assim, aberto a novas divagações e encantamentos a cada reencontro.

“Cloitre”, de Thomas Köner e Jana Winderer está disponível numa edição limitada em CD pela Touch

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