A segunda vida dos Tribalistas
Texto: NUNO GALOPIM
E assim, de repente, havia um segundo disco… Tal como sucedeu em anos recentes com David Bowie ou Beyoncé, o segredo foi aliado maior de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. Juntos, como Tribalistas, editaram em 2002 um disco que rapidamente se afirmou como um episódio maior na história da música pop(ular) brasileira. Não levaram o álbum à estrada, mas na verdade não mais deixaram de estar juntos, tantas que foram as ocasiões em que, daí em diante, os caminhos criativos dos três frequentemente se cruzaram. Mas desta vez juntaram-se com outro fim… O de juntar um segundo capítulo a uma história iniciada a três em Tribalistas… E há relativamente poucos dias, numa operação de comunicação lançada online sem qualquer aviso prévio, anunciar um regresso, revelando desde logo quatro novas canções. E, agora, um novo ao qual deram um título que em tudo sublinha uma noção de continuidade… Tribalistas.. O segundo, pois está claro.
Instrumentalmente focado em registos acústicos, não dispensando contudo a presença de elementos eletrónicos que ajudam a composição cénica das canções, o segundo álbum dos Tribalistas sugere um episódio de continuidade natural no plano musical, revelando as suas mais evidentes novas coordenadas nos destinos temáticos das canções, em algumas delas sugerindo olhares sobre o mundo atual. Mais políticos, portanto. E quem consegue não o ser em 2017? Diáspora, uma das primeiras canções reveladas, é disso um exemplo, abordando a crise dos refugiados. Um Só reflete sobre o que numa sociedade que muitas vezes divide. E Lutar e Vencer exala uma força quase ativista que quer arregaçar as mangas por aquilo em que acredita.
É um disco talvez menos festivo, mais feito de reflexões e de vozes interiores. E se no primeiro o encantamento estava no encontro a três e na expressão musical desse desafio, neste segundo há outros elementos em jogo, num deles esboçando-se uma ponte transatlântica com Portugal através de uma colaboração de Carminho em dois temas, cantando inclusivamente em Os Peixinhos. São pistas talvez menos imediatos (num confronto diret. Mas igualmente compensadoras.
“Tribalistas”, dos Tribalistas, é uma edição Phonomotor, distribuída pela Universal, para já disponível entre nós nas plataformas digitais. ★★★★
Republicou isto em O LADO ESCURO DA LUA.
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