Pela região demarcada dos… Sparks
Texto: NUNO GALOPIM
Se fizermos as contas obtemos um número impressionante: o primeiro álbum dos Sparks saiu há 46 anos! Veteranos, autores de uma carreira sem pausas e que já passou por universos tão distintos quanto os do glam rock, o disco sound, a pop eletrónica ou até mesmo o teatro musical, os Sparks têm assinado uma carreira recheada de edições, umas mais marcantes (e não são poucas, surgindo em etapas bem distintas de toda a obra), outras nem tanto assim. E a verdade é que quando menos se espera eis senão quando colocam em cena um daqueles discos que fazem o deleite dos que há muito se habituaram a neles encontrar uma força pop musicalmente gourmet, liricamente inteligente e performativamente bem humorada. Hipopotamus é mais um título a juntar assim a uma lista de álbuns “obrigatórios” pela qual surgem títulos como Kimono In My House (1974), Propaganda (1974), Nº 1 In Heaven (1979), Gratuitous Sax & Sensless Violins (1994), Plagiarism (1997) ou Lil’ Beethoven (2002).
Mais do que os dois álbuns “menores” que se seguiram ao colosso art pop de 2002 – Hello Young Lovers (2006) e Exotic Creatures of The Deep (2008) – o novo Hipopotamus coloca em cena a proposta de uma evolução de ideias tendo Lil’ Beethoven como ponto de partida, embora as formas rumem depois para um registo mais canónico (em “sparkês”, claro). E basta escutar uns compassos de Missionary Position para sentir tanto aquele conforto que o (re)conhecido sugere como o prazer que a descoberta comporta.
O tema título é aqui o elemento que faz a ponte com o minimalismo pop de câmara de Lil’ Beethoven, mostrando o alinhamento marcas evidentes da identidade da música dos Sparks – nas melodias, nos arranjos eloquentes, nos pontos de vista espirituosos das palavras, nos malabarismos do registo vocal – aos quais aplicam uma paleta instrumental mais próxima da matriz pop/rock acústica, embora sem dispensar a colaboração cénica que as eletrónicas colocam depois em cena. Juntando, como um dos extras, a presença de Leos Carax em When You’re a French Director.
Hipopotamus é, na verdade, o primeiro álbum de estúdio dos Sparks em nome próprio já que, desde 2008, a sua discografia juntou aos títulos anteriores o musical The Seduction of Ingmar Bergman e ainda a colaboração com os Franz Ferdinand apresentada em FFS. E consegue a (rara) proeza de, a partir de ingredientes e marcas imediatamente reconhecíveis, nos dar uma das mais surpreendentes e contagiantes coleções de canções de toda a sua discografia…
“Hipopotamus”, dos Sparks, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais num lançamento da BMG Rights Management. ★★★★
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