A resistência da memória
Texto: NUNO GALOPIM
Memórias da história espanhola do século XX passam por Os Trilhos do Acaso que, depois de O Inverno do Desenhador e A Casa, é já o terceiro título da obra de Paco Roca que a Levoir publica entre nós, parte significativa de uma bibliografia traduzida para português que inclui ainda Rugas (de 2007), lançado pela Bertrand.
A narrativa cruza os tempos, avançando quer entre as memórias da La Nueve, a divisão constituída por espanhóis que combateu em França depois do Dia D, nos meses que assistiram ao avanço aliado que culminaria com a capitulação da Alemanha de Hitler em 1945, e o presente no qual um dos militares que a integrou recorda, após anos de silêncio, os acontecimentos então vividos. Entre os olhares lançados pelo passado são particularmente pungentes os retratos feitos dos acontecimentos vividos por aqueles que combateram pelas forças republicanas durante a guerra civil espanhola quando, chegados ao norte de África, enfrentam uma sucessão de cenários adversos.
Mais do que um diário de guerra – que recua ao desfecho da guerra civil espanhola e ao destino difícil depois vivido no norte de África por muitos dos que procuraram fugir após da vitória das forças de Franco – Os Trilhos do Acaso mergulha no espaço pessoal daqueles que a viveram, quer no plano das memórias revisitadas quer no modo como observa como esses momentos se projetaram como consequências no tempo que entretanto passou e molda o presente daquele através de quem os factos, os lugares e as figuras de então cruzam os tempos nestas páginas.
“Os Trilhos do Acaso” (volumes 1 e 2) de Paco Roca é uma edição em capa dura da Levoir
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