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Mais luzes do que sombras

Texto: NUNO GALOPIM

O novo disco de Marc Almond é essencialmente feito de abordagens orquestrais e grandiosas de canções que fazem de “Shadows and Reflections” uma celebração de memórias dos anos 60.

Fazer um álbum de versões está longe de ser uma novidade na carreira de Marc Almond. Desde o magnífico Jacques (1989) no qua abordou a obra de Jacques Brel a Orpheus In Exile (2009) dedicado a canções de Vadim Kozin, passando por Absynthe (1993) e Heart on Snow (2003) no qual abordou respetivamente compositores franceses e russos, a sua obra passou já por diversas vezes pelas canções dos outros. E muitas vezes assim foi para além dos discos temáticos tal como sucedeu quando cantou Something’s Gotten Hold of My Heart de Gene Pitney (e em dueto com o próprio) em 1989, What Makes a Man de Aznavour em 1993 ou até quando deu nova vida a Tainted Love (originalmente gravado por Gloria Jones em 1964) naquele que foi o single dos Soft Cell que, em 1981, lhe deu visibilidade mundial. Ao voltar a apresentar em Shadows and Reflections um novo disco essencialmente feito de versões, regressa por um lado a um terreno através do qual deu importantes passos ma definição da sua identidade. Mas ao mesmo tempo desta vez opta por focar ambientes e formas de uma época em particular, celebrando os anos 60 num tom de exuberância que então caracterizava alguns daqueles que experimentavam periferias da canção pop, piscando o olho ao universo das grandes orquestras, das torch songs, do charme.

Um concerto orquestral relativamente recente, com um alinhamento feito de torch songs de várias épocas, serviu aqui de ponto de partida para uma reflexão. E para evitar fazer um disco de standards sem um rumo mais preciso apontou azimutes aos anos 60, escolhendo canções entre grandes canções com arranjos orquestrais e tomando como referência a canção No One To Say Goodbye To, uma colaboração com o compositor e arranjador John Harle que, de certa forma, deu o tom para a coleção de memórias que depois surgiu e que reflete uma certa afinidade com as bandas sonoras dos filmes de há cerca de 50 anos.

A voz de Marc Almond, que no recente The Velvet Trail (2015) revelava estar novamente num pico de forma, adapta-se que nem uma luva a peças gourmet como Blue on Blue de Burt Bacharah, The Shadow of Your Smike de Johhny Mandel ou Not For Me de Bobby Darin, apresentadas em orquestrações luxuriantes que funcionam como máquinas do tempo que nos transportam aos sessentas. É certo que Marc Almond está em terreno seguro e em clara zona de conforto. Mas entre a profusão de títulos recentes (e tem sido intensa a sua agenda de edições), Shadows and Reflections junta um dos seus maios sólidos episódios. Depois de The Velvet Trail este álbum confirma o bom momento que atravessa. É mais um veterano a ter em conta, portanto.

“Shadows and Reflections”, de Marc Almond, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da BMG ★★★★

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