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Os dez melhores singles dos Talk Talk

Seleção e textos: NUNO GALOPIM

Com uma obra que hoje é reconhecida como uma das mais “gourmet” entre as nascidas na pop britânica dos anos 80, os Talk Talk vão ter a sua discografia brevemente reeditada em vinil. Aqui fica uma seleção de memórias.

Os Talk Talk podiam ser uma espécie de adaptação à música popular britânica dos oitentas do conceito que Michelle (a da Resistência – sim, da série Alô Alô) inscreveu na história da cultura pop: “listen very carefully, I shall say this only once”… Da banda animada pela luminosidade new wave (houve até quem lhes chamasse new romantics) que nos deu o belo The Party’s Over em 1982 ao evidente mergulho numa identidade que transcendeu as fronteiras da canção pop para ensaiar flirts com outras formas (de longe vislumbrando-se até algumas liberdades jazzísticas) por alturas de Spirit of Eden (1988), os Talk Talk protagonizaram uma carreira absolutamente ímpar, em muito abençoada pela visão (e personalidade) do vocalista Mark Hollis, mas igualmente marcada pela colaboração (a partir de 1984) do produtor Tim Friese-Green.

Cada disco foi diferente, apenas Laughing Stock (o seu canto do cisne, em 1991) revelando proximidades formais com o imediatamente anterior Spirit of Eden, embora tendo aprofundado a exploração dos caminhos que este já abordara, com maior volume de instrumentos presentes e focando temáticas do foro místico (e, como curiosidade, tendo sido editado pelo selo da Verve, etiqueta com história maior feita em solo jazzístico).

Cinco álbuns de estúdio ficaram como registo desse percurso discograficamente ativo entre 1982 e 91, uma multidão de antologias e reedições tendo desde então assegurado novas chamadas de atenção a uma música que entretanto do grupo fez um dos mais notáveis casos de culto nascidos no seu tempo. Agora recordamos dez singles que contam essa história:

1 “I Believe in You” (1988)
Apesar de nunca terem repetido abordagens à escrita e produção entre os seus três primeiros álbuns, ao quarto disco os Talk Talk rumaram para algo… completamente diferente. Já havia, sobretudo entre os álbuns It’s My Life e The Colour Of Spring sinais de busca por outras cenografias para a canção, porém ainda dentro de um quadro formal claramente pop. Entre 1987 e 1988 Mark Hollis e o produtor Tim Friese-Green gravaram uma série de sessões essencialmente dominadas pela improvisação e entre territórios mais próximos do jazz e de estéticas ambiente… Foi dessas gravações, submetidas depois a longos processos de corte, colagem e mistura que nasceram os temas do álbum Spirit of Eden, que teve este single como cartão de visita. Longe do apelo mainstream de outrora. Mas claramente uma expressão de um processo de progressiva evolução e mutação que fez dos Talk Talk um dos casos notáveis da pop dos oitentas.

2. “Such a Shame” (1984)
O segundo single extraído do alinhamento do álbum It’s My Life sublinhou o afastamento dos modelos mais próximos da new wave de outrora, propondo uma canção diferente, na qual se conciliam elementos ambientais com instantes de intensidade maior e pela qual, mais do que em qualquer das suas criações anteriores, os Talk Talk vincam marcas (musicais e de inspiração literária) que os distinguiram dos seus demais contemporâneos. Apesar de quase ignorado no Reino Unido (onde não foi acima do número 49), o single deu-lhes um êxito colossal em vários territórios europeus.

3. “Life’s What You Make It” (1986)
Se os sinais de evolução haviam sido já evidentes na passagem do primeiro para o segundo álbum, a chegada de The Colour of Spring evidenciou mais ainda esse interesse em não ficar parado num mesmo patamar. Contrastando com um tempo em que as eletrónicas e novas possibilidades em estúdio ganhavam terreno, os Talk Talk apontaram azimutes a um reencontro mais classicista com outros timbres e instrumentos. E com este que foi o single de apresentação do novo álbum obtiveram um dos seus maiores êxitos.

4. “Talk Talk” (1982)
A canção tinha uma história já antiga e chegara até a conhecer uma versão punk, como Talk Talk Talk Talk pela anterior banda de Mark Hollis, os The Reaction. Depois de um single de estreia que passara longe das atenções, foi este o single que serviu de cartão de visita à banda, revelando de forma mais clara a abordagem angulosa a heranças diretas da new wave, num trabalho de estúdio feito sob a produção de Colin Thurston, que na altura trabalhava com os Duran Duran. Em Portugal foi um êxito colossal e é talvez ainda hoje entre nós a canção do grupo com maior visibilidade.

5. “It’s My Life” (1984)
Lançado em janeiro de 1984 It’s My Life foi o single de apresentação do segundo álbum de estúdio dos Talk Talk (que teria, como se saberia em fevereiro de 1984, o mesmo título desta canção). Pop elegante, talhada na medida de formas e modelos de produção em vigor, revelava um claro afastamento face ao registo mais intenso que tinha dominado a música da banda nos seus primeiros anos de vida. Sinais de mudança cativantes deixaram então boas expectativas sobre o álbum que vinha a caminho.

6. “Living in Another World” (1986)
O segundo single extraído do álbum The Colour Of Spring acentuou os trilhos de mudança sugeridos por Life’s What You Make It, traduzindo afinal os sinais de mudança que caracterizavam o som de uma banda que claramente se afastava das origens new wave e do sentido de produção pop mais próximo das correntes mainstream para investir numa busca de ecos de outras realidades (e outros tempos), procurando acentuar a sua demanda através do recurso a uma instrumentação mais classicista. Mas nem por isso nostálgica.

7. “Dum Dum Girl” (1984)
Depois de dos monumentos da melhor pop de meados dos anos 80, o terceiro single extraído do alinhamento do álbum It’s My Life apontou azimutes a Dum Dum Girl, faixa de abertura do álbum que corresponde a um dos três momentos do seu alinhamento que nascem de uma parceria na escrita entre o vocalista Mark Hollis e Tim Friese-Green, que começara a trabalhar com a banda no ano anterior e se tornaria num importante parceiro de trabalho até à sua separação.

8. “Today” (1982)
Depois de terem lançado, sem que quase ninguém desse por isso, o single de estreia Mirror Man, os Talk Talk deram sinais de vida com um segundo 45 rotações que os colocou no mapa, contudo com mais êxito fora do que dentro do Reino Unido (como foi o caso de Portugal). Em “casa” o seu primeiro caso de sucesso surgiria apenas ao terceiro single, dotado das mesmas características de identidade sonora de Talk Talk. Foi este Today, que chamou atenções para o álbum de estreia The Party’s Over, que então era editado.

9. “Mirror Man” (1982)
Com tantas palavras para dar títulos a canções e em 1982 houve duas bandas britânicas, ambas a trabalhar com sintetizadores, a chamar Mirror Man a um novo single. Já com três álbuns editados, os Human League viram o seu Mirror Man a disparar nas tabelas de vendas. Pelo contrário os estreantes Talk Talk viam o seu primeiro single a passar longe das luzes, deixando apenas para quem depois lhes dedicou atenção a descoberta de como aqui estava, mais do que nos demais singles que editariam ainda esse ano, a chave para uma pop mais elaborada que trabalhariam no seu segundo LP, em 1984.

10. “My Follish Friend” (1983)
Editado em 1983 o single My Fololish Friend representou um episódio de transição entre os ambientes mais dominados por ecos pós-punk que tinham caracterizado o álbum de estreia e a pop mais aprumada que se revelaria no segundo álbum, que surgiria no ano seguinte. Esteve longe de ser um êxito maior e talvez seja um tema pouco lembrado fora do núcleo de admiradores dos Talk Talk. Mas era já clara expressão de uma identidade que se destacava entre o panorama pop de então.

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