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2049: Missão cumprida!

Texto: NUNO GALOPIM

Assinado por Denis Villeneuve, o magnífico “Blade Runner 2049” junta-se a “O Primeiro Encontro” para confirmar o seu autor como um nome de peso no atual panorama do cinema de ficção científica.

Era um desafio monumental. Dar continuidade a uma obra que esteve longe de ser coisa unânime quando surgiu pela primeira vez no grande ecrã em 1982 mas que, entretanto, se transformou numa referência maior – e transversalmente aclamada – do cinema de ficção científica, convenhamos que não era coisa fácil. Foram anos para aqui chegar. Para definir a equipa certa. Para juntar as peças que garantiam a inscrição do novo filme bem dentro do universo definido pelo Blade Runner de Ridley Scott e, claro, pelas ideias desde logo lançadas no conto de Philip K. Dick que lhe servira de ponto de partida. E, ao mesmo tempo, era determinante ter em conta a capacidade de dotar uma nova incursão por este mesmo universo de uma capacidade de juntar novos elementos e pontos de vista… Convenhamos que poucas vezes houve sequelas que geriam de forma tão brilhante estes dois planos dos acontecimentos.

Se a visão noir retro futurista que definira a Los Angeles de 2020 retratada em Blade Runner (ou Perigo Iminente, no título português) servira brilhantemente de contexto cénico para uma história de seres fabricados para servir os humanos – os replicants – mas que começaram a “contestar” a sua programação e a desejar ter vida própria para além dos quatro anos de tempo que lhes era dado à “nascença”, a nova megalópole pós-apocalíptica aumenta mais ainda o mundo de possibilidades do contexto em que a história é retomada, 29 anos depois. Houve um “apagão” global. A Tyrrel Corporation (que fabricava os replicants) implodiu e um novo magnata adquiriu-a, fabricando agora novas gerações de seres “obedientes”, da série Nexus-9, destinados às mais diversas funções. Ainda há, contudo, foragidos de gerações “desobedientes” (a Nexus 8). E, tal como no filme de 1982, os “blade runners” que os perseguem e matam no momento. KD6-3.7 (interpretado por Ryan Gosling) é um blade runner. Mas também um replicant… Dos obedientes, como confirma a tenente (Robin Wright) que é sua chefe na esquadra da LAPD… A “vida” de K muda no dia em que localiza um foragido Nexus 8 que vive há muito como produtor de proteínas longe da cidade. Ali faz uma descoberta que alude ao possível “milagre” a que o replicant foragido se refere… Poderão os replicants ter filhos, tal como os seres humanos reais?

É esta dúvida, que coloca em risco toda uma ordem instituída numa sociedade em que milhões de seres artificiais coabitam com humanos “reais”, que dá o ponto de partida para a demanda do agente KD6-3.7. E que, sem surpresa (duvido que seja spoiler até em Neptuno) nos levará ao reencontro das figuras de Deckard (papel retomado por Harrison Ford) e Rachel, do filme de 1982.

Com o magnífico Arrival no currículo, o realizador Denis Villeneuve cimenta com Blade Runner 2049 um papel importante no panorama atual da ficção científica, voltando a apostar na construção de um filme que não tem pressa para nos apresentar as personagens, os lugares e a própria evolução da trama. Ainda bem… Além disso junta uma relação cuidada com o som (não apenas uma belíssima banda sonora evocativa da que Vangelis compôs em 1982 mas também um lado de design sonoro dos ambientes) e uma vontade em trabalhar a cenografia como tela que sabe nela encaixar as figuras que vemos e as ações que protagonizam. Diferente da Los Angeles de Blade Runner, esta que encontramos 29 anos depois é mais cheia de construções em altura (as ruas iluminadas a néones habitam o fundo de canyons de prédios) e está separada de um mar violento por um altíssimo muro. O clima é mais sombrio ainda. Há neve, névoa… O clima avariou de vez e ver uma árvore viva é coisa que ninguém imagina o que possa ser… Há lixeira do tamnho de cidades a caminho de San Diego (lembram as do mundo morto de Wall-e). Sinatra, Elvis e Marilyn vivem de novo, mas em hologramas, em casinos futuristas…

O final tem sabor a sequela iminente… Será, como Dennis Villeneuve afirmou recentemente, coisa que dependerá do sucesso de Blade Runner 2049… Mas fica claro para onde aponta a trama, se houver luz verde para uma terceira “parte”. Afinal, e como se sugere em vários momentos, mesmo “artificiais” os replicants são em tudo muito parecidos com os seres humanos. Demasiado parecidos.

Mais do que contar o que aqui se diz será “perturbar” a experiência de encontrar no grande ecrã uma daquelas raras sequelas que sabem acrescentar sem estragar o que de bom toda a história já tinha em nós antes de entrarmos na sala escura. E sim, Ryan Gosling dá conta do recado… O tom “numb” dos Nexus-9 veste-lhe bem.

“Blade Runner 2049”, de Denis Villeneuve, com Ryan Gosling, Harrison Ford, Ana de Armas, Sylvia Hoeks e Robin Wright, está em exibição entre nós, com distribuição pela Big Picture.

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