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“Exciter”: excitação tranquila no novo milénio

Texto: NUNO GALOPIM

Editado em 2001 o álbum “Exciter” cimentou a nova etapa de vida dos Depeche Mode enquanto um trio. Para a produção chamaram Mark Bell, dos LFO e que recentemente tinha ganho visibilidade maior a trabalhar com Björk.

Editado em 1997 o álbum Ultra deixara tranquilos tantos os elementos dos Depeche Mode (reduzidos a trio) como aquele com quem trabalhavam e, claro, os muitos que, à escala global, faziam do grupo um dos fenómenos de maior longevidade e sucesso entre a sua geração de bandas. O passo seguinte representou o momento em que, com a crise dos noventas definitivamente ultrapassada, ao grupo cabia o desafio de voltar a centrar as atenções na criação de novos caminhos para uma carreira que cruzara o milénio e olhava o futuro com uma paz que há algum tempo não conhecia. Talvez por isso, e apesar do título poder sugerir agitação, Exciter revelou-se um dos episódios mais “calmos” da sua obra, o que não impediu o álbum de levar ao seu alinhamento momentos mais intensos e assombrados, na melhor linha da personalidade que a discografia do grupo há muito vinha a desenhar.

Depois da parceria (bem sucedida) com Tim Simenon em Ultra, para trabalhar nas sessões de Exciter chamaram Mark Bell, elemento dos LFO e que entretanto ganhara “voz” mais reconhecida através de colaborações com Björk. O seu interesse pelo detalhe e em desenhar cenografias com recurso às eletrónicas tomou aqui um papel decisivo num conjunto de opções que refrearam a presença de elementos da cultura pop/rock americana que haviam tomado maior peso na música dos Depeche Mode nos anos 90. Uma canção como The Sweetest Condition reflete, por exemplo, essas mesmas heranças ainda presentes, embora mais profundamente assimiladas. Também The Dead of Night escuta pistas mais intensas tomadas em instantes dos álbuns de 1993 e 1997 (como I Feel You ou Barrel of a Gun) projetando-as contudo num reencontro mais evidente com memórias industriais que a banda percorrera nos oitentas.

De mais evidentemente novo sente-se a vontade em trabalhar as presenças de ambientes (por vezes chamando arranjos de cordas) e de pequenos acontecimentos cénicos – muito na linha do trabalho recente de Mark Bell – que se revelam em temas como The Body Speaks, o instrumental Lovetheme, o mais assombrado Comatose ou o lírico Breathe, as canções do disco que mais bem ajustam os pontos de vista das opções de produção com a voz, curiosamente sendo a Martin Gore aquela que escutamos nestes dois últimos casos.

O elo mais “fraco” de Exciter reside talvez nas opções sobre os singles a extrair do alinhamento (Dream On e Freelove estão longe dos seus grandes clássicos), sendo verdade que, face a discos anteriores, este é um álbum que vive mais do corpo conjunto de faixas do que da soma de “êxitos” potenciais com canções companheiras por perto. Mesmo assim tiveram em I Feel Loved uma interessante atualização (curiosamente mais próxima da tecno à la LFO) do modelo da canção dançável dos tempos de Music For The Masses e no menos divulgado Goodnight Lovers dois dois seus melhores singles pós-milénio.

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