Max Richter, ao serviço da ficção
Texto: NUNO GALOPIM
Com maior visibilidade num ou outro filme – com exemplos mais notáveis talvez em Valsa com Bashir de Ari Folman ou Lore, de Cate Shortland – o trabalho de Max Richter para cinema e televisão tem surgido num ritmo que, sem surpresa, excede aquele que tem definido o calendário das edições da sua restante discografia e agenda de atuações. Nada contra. É assim mesmo e não é caso único na história da música de convivência fluente entre todos esses mundos, tal como aconteceu com nomes como Nino Rota ou Bernard Hermann ou, no presente, Philip Glass ou Eleni Karaindrou. Alguma da música de Max Richter para cinema e televisão tem surgido em edições (físicas e/ou digitais) diretamente associadas aos filmes e séries em questão, estando por isso dispersa por vários catálogos. Artista da Deutsche Grammophon há quase meia dúzia de anos, Max Riochter viu este ano a “sua” editora a apostar na criação de uma série de edições expressamente dedicada ao seu trabalho para cinema e televisão. E assim, sob a designação “Studio Richter”, surgiram já este ano três volumes (todos eles com um número na capa, vincando essa noção de coleção). Alguns estavam já antes disponíveis em formato digital, juntando esta coleção a sua edição em CD e em LP em vinil.
O volume 1 apresenta a banda sonora orquestral de Henry May Long (2008), uma longa-metragem de época de Randy Sharp para a qual Max Richter compôs uma partitura que vinca um ponto de vista mais lírico, usando uma orquestra de câmara, piano e pontual presença cénica de discretas eletrónicas. O segundo volume apresentou elementos da banda sonora para uma orquestra sinfónica e vozes que serviu as imagens de Taboo, série criada por Tom Hardy, Edward “Chips” Hardy Steven Knight estreada já este ano e que valeu a Max Richter a nomeação para um Emmy. Tal como em Henry May Long esta é uma música essencialmente “funcional”, mais cenográfica do que descritiva, e serve imagens que narram ações que decorreram no século XIX. A atmosfera aqui é tensa, com fresta de mais frágil lirismo nos instantes de melancolia ao piano em A Lamenting Song. Um tanto diferente destes dois discos, e representando o mais “apetitoso” deste trio que abre a série é Nosedive, volume 3 que corresponde à música que Max Richter compôs para o primeiro episódio da terceira temporada de Black Mirror. Dos três volumes, e apesar de aceitar uma lógica (natural para cinema e ficção televisiva) que recorre à presença de temas e suas variações, este é dos três discos aquele que apresenta um corpo de ideias que mais se aproximam da obra central do compositor. Piano, cordas e uma mais evidente presença de eletrónicas fazem desta uma das suas mais “saborosas” bandas sonoras, num verdadeiro concentrado de ideias em apenas 24 minutos de música.
“Henry May Long”, “Taboo” e “Nosedive” estão, todos eles, disponíveis em LP, CD e nas plataformas digitais, em edição da Deutsche Grammophon.
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