“Sounds of The Universe”: Um exercício de continuidade
Texto: NUNO GALOPIM
O título do álbum sugere o peso de alguma pompa, mas a grande extensão da digressão mundial que se segui ao lançamento do disco, assim como o aproximar das celebrações dos 30 anos de vida dos Depeche Mode podem ter justificado a opção… Sounds Of The Universe é um disco tenso (mas nem por isso necessariamente intenso), o tom sombrio dos ambientes na verdade sugerindo mais um elaborado trabalho cénico do que um investimento de semelhante calibre na escrita e composição.
De facto, há por aqui mais de “novo” na forma que no conteúdo, as canções raramente escapando a destinos narrativos e imagens já usadas vezes sem conta em vários discos da obra da banda posterior a 1986. No som, contudo, sentem-se marcas de investimento na procura de evolução na continuidade face aos últimos álbuns, revelando desejos de desafio estético em busca de mudança como não se ouvia desde as assimilações da cultura americana em Songs Of Faith and Devotion. De resto, a continuação a bordo da presença de Bem Hiller como produtor sublinha esse mesmo desejo de continuidade, que se reflete inclusivamente na aritmética dos elementos em jogo, cabendo novamente a Dave Gahan a escrita de três canções.
Abundam as electrónicas menos polidas, frequentemente reencontrando um maior minimalismo e até registos de som que faziam a lei nos seus discos em inícios de 80. Na verdade, e sem afastar do estúdio as guitarras e outras presenças pós-90, este é o álbum do grupo mais próximo do registo eletrónico “clássico” que conhecera paradigma em Violator. Mas apesar de incluir momentos de excepção como o são Peace, Fragile Tension e Wrong (convenhamos que acertaram na mouche na escolha dos singles) ou o surpreendente instrumental (de perfil muzak) Spacewalker, o disco mostra sinais de alguma dieta de ideias na composição das canções. Fazendo as contas às memórias do calendário podemos verificar que Dave Gahan tinha recentemente editado um segundo disco a solo, tal como Martin Gore havia dado continuidade ao seu gosto de gravar versões em Counterfeit 2. Pois… E, apesar do apregoado bom ambiente de trabalho, a verdade é que Sounds of The Universe está, de facto, longe de ser dos seus discos mais memoráveis.
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